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A imagem dos nativos e a conquista da América Espanhola

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A figura de Atahualpa nos fornece outra visão sobre a conquista da América Espanhola.
A figura de Atahualpa nos fornece outra visão sobre a conquista da América Espanhola.

Ao trabalhar o processo de dominação da América Espanhola, percebemos que muitos dos livros didáticos e professores resumem essa situação à opressão que os nativos americanos sofreram na mão dos europeus. Muitas vezes, se passa uma imagem que reforça um ideal de inferioridade na relação entre esses dois povos que se encontraram nas primeiras décadas do século XVI. Contudo, seria essa forma de abordagem correta para se pensar o tema em questão?

Visando responder a tal pergunta, oferecemos aos professores um documento capaz de revelar questões bastante interessantes sobre esse tema. Nesse caso, fazemos o uso da fala de um estudioso da área que aborda o processo de dominação do povo inca, dando maior especificidade à prisão do chefe político e religioso Atahualpa. Nessa simples passagem, podemos levantar informações que nos ofereçam uma nova forma de avaliar a posição dos nativos enquanto sujeitos históricos ativos dessa situação.

Preso Atahualpa e negociado o seu resgate, o Inca convive mais de um ano com os seus raptores. Aprende o espanhol e os costumes de seus sequestradores, por exemplo, a jogar xadrez, chegando a ser invencível. Inteligente e arguto, rapidamente compreendeu o valor do livro na sociedade dos seus raptores e, com grande perspicácia, julgou as inconsistências na socialização da tecnologia no sistema dos invasores. Como chefe de Estado de uma nação poderosa e de uma sociedade dividida em classes, ele demonstrou muito orgulho ante os espanhóis. Acostumado a lidar com a alta nobreza, submeteu a um teste o chefe máximo da expedição conquistadora: mandou que escrevessem na sua unha a palavra Dios e, depois, pediu que Pizarro lesse o que tinha escrito. Pizarro não sabia ler, daí em diante o Inca passou a desprezá-lo.

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(LAGÓRIO, Maria Aurora Consuelo. Comentário à Conferência de Guillermo Giucci. In: América descoberta ou invenção: 4º colóquio UERJ – Rio de Janeiro: Imago Ed., 1992, p. 132.)

Nesse interessante relato, o aluno tem a grata oportunidade de entender uma questão que excede a tecnologia bélica e a superioridade militar dos espanhóis em relação aos incas. Ao reconhecer as atitudes e comportamentos do chefe Atahualpa, ele verá que o nativo não pode ser considerado ou visto como um ingênuo ou incapaz, pelo fato do personagem em questão aprender a língua dos conquistadores, os seus costumes e refletir sobre a cultura do outro.

Colhendo esse universo de informações, o aluno terá condições de compreender que a dominação espanhola não se deu contra povos intelectualmente inferiores. Pretendendo reforçar essa mesma perspectiva, acreditamos que o professor possa dedicar parte da aula para explorar imagens ou outros relatos que mostrem os conhecimentos, invenções e tecnologias desenvolvidas pelas civilizações pré-colombianas. Desta forma, vemos que a dominação aconteceu como um evento histórico que em nada atesta a superioridade absoluta dos europeus em relação aos americanos.

Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola