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Aula sobre a experiência do terror no nazismo

Nesta proposta de aula sobre a experiência do terror no nazismo, o professor de história terá acesso a sugestões de temas sobre a atmosfera de terror da Alemanha dos anos 1930.
Acima, imagem de fornos crematórios de corpos em um dos campos de concentração nazistas
Acima, imagem de fornos crematórios de corpos em um dos campos de concentração nazistas
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Ao longo da história humana, muitos momentos de terror tornaram-se imperiosos. A máquina de guerra assíria avassalando os povos da Mesopotâmia na Idade Antiga é um exemplo notável. A fase do Terror, em 1793, na França Revolucionária, é outro. Essas atmosferas foram documentadas de variadas formas e de acordo com a época histórica, seja em esculturas e pinturas, seja em narrativas, discursos, filmes etc. Neste texto, pretendemos apresentar algumas opções de aula sobre a experiência do terror na época do nazismo.

Sabemos que na história mundial recente os regimes políticos totalitários, como o fascismo, o nazismo e o comunismo, impingiram às mais diversas nações catástrofes terríveis. O caso do nazismo é emblemático, sobretudo em virtude da explícita ideologia racista e eugenista que deflagrou a perseguição e aniquilação de vários grupos sociais e culturais, em especial os judeus. Apesar do farto material do qual a historiografia dispõe sobre isso, por vezes, o professor de história não consegue inovar a metodologia de suas aulas sobre o nazismo. Uma dica interessante seria explorar os relatos e as reflexões de historiadores sobre os sonhos de judeus durante o período de perseguição.

Após a liberação dos campos de concentração em 1945, muitos dos sobreviventes do Holocausto fizeram tratamentos com psiquiatras e psicólogos de diversos matizes; outros tantos escreveram memórias e diários a respeito das experiências sofridas como forma de “exorcizar” os males do passado. Dessas fontes, o sonho é uma das mais peculiares, haja vista que parte de experiências reais, porém as transforma em uma forma de imaginação alegórica, na qual os fatos ganham uma dimensão psicologicamente profunda. Um dos historiadores que se debruçaram sobre esse tema foi o alemão R. Koselleck, que escreveu, em um artigo intitulado “Terror e Sonho”:

Os sonhos dos campos de concentração nos revelam um terreno onde a razão humana parece falhar, onde sua linguagem emudece. Esses sonhos distinguem-se por uma rápida perda da realidade; ao mesmo tempo, em igual proporção, aumentam os sonhos de vigília. Com isto nos vemos impelidos a um terreno no qual a fontes escritas e orais são raramente insuficientes para nos dizer o que se passa. Para aprendermos a ver o que realmente aconteceu, somos remetidos à metáfora dos sonhos.” [1]

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A “matéria-prima” dos sonhos é um misto de lembranças das sensações (como o medo, a dor etc.) com aspectos da realidade vivida. Entretanto, quanto mais a atmosfera vivida é opressiva e ameaçadora, quanto mais os traumas são grandes (perda da família, estupro, doenças, inanição etc.), menos conexão com a realidade têm os sonhos. Prossegue Koselleck:

Ao contrário dos sonhos dos primeiros tempos do Terceiro Reich, que se caracterizaram por uma clara percepção política, os sonhos dos presos em campos de concentração perdem toda relação direta com a realidade. Os sonhos de 1933 e dos anos seguintes alimentavam-se de uma proximidade com a realidade que possibilitava aos sonhadores elaborar o terror em suas vidas. […] O terror diabólico do sistema de vigilância paralisava os prisioneiros, restringindo-lhes de tal forma os movimentos que, salvo raras exceções, lhes era retirada toda a percepção espontânea e direta.” [2]

Buscar as fontes de compilação desses tipos de sonhos e as análises referentes a eles e incluí-las nas aulas sobre o nazismo podem enriquecer o repertório dos alunos, haja vista que a história das experiências, e não apenas a compilação de fatos, é de suma importância para a compreensão dos fenômenos históricos como um todo.

NOTAS:

[1] KOSELLECK, R. “Terror e Sonho”. In: Futuro Passado: contribuições à semântica dos tempos históricos. Trad. Wilma Patrícia Maas, Carlos Almeida Correia. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006. p. 256-57.

[2] Idem. p. 257.


Por Me. Cláudio Fernandes