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Aula sobre o genocídio dos armênios

Com esta sugestão de aula sobre o genocídio dos armênios, o professor de história poderá explorar um tema do contexto da Primeira Guerra Mundial pouco trabalhado em sala.
Monumento às vítimas do genocídio dos armênios
Monumento às vítimas do genocídio dos armênios
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Quando o professor de história leciona seu conjunto de aulas sobre a Segunda Guerra Mundial para o Ensino Médio, é ponto pacífico ele ministrar em uma dessas aulas o conteúdo referente ao holocausto dos judeus (e outros povos), levado a cabo pelo nazismo. No entanto, não é muito comum que, ao lecionar sobre a Primeira Guerra Mundial, o professor de história dê ênfase no genocídios dos armênios, executado pelo Império Turco-Otomano entre os anos de 1914 e 1915. Com vistas a auxiliar os professores a prepararem aulas sobre esse tema, apresento este texto.

Primeiramente, para que uma aula sobre o genocídio dos armênios seja bem-sucedida, é necessário que o professor cumpra três etapas: 1) apresentar aos alunos um histórico da Armênia da segunda metade do século XIX até o início da Primeira Guerra, em 1914; 2) apresentar os dados sobre o genocídio em questão; 3) analisar, por meio de recortes de jornais, notícias de portais da internet, etc., qual é a postura que a Turquia e a Armênia têm, hoje, sobre esse fato.

Com relação à primeira etapa, o professor deverá mostrar aos alunos a particularidade da Armênia em relação à hegemonia que o Império Turco-Otomano exercia no Oriente Médio e na Ásia Menor. Ao contrário das outras nações então controladas pelos turcos nessa época, os armênios eram, em sua maioria, cristãos e foram obrigados a se tornarem súditos dos turcos. Essa relação de subserviência gerou, no fim do século XIX, um movimento de resistência nacionalista entre os armênios, que recebeu, em alguns momentos, apoio do Império Russo – inimigo dos turcos.

A organização da resistência armênia culminou nas primeiras retaliações turcas, que consistiam em deportação e assassinato. Essas práticas intensificaram-se no início da Primeira Guerra, entre 1914 e 1915, quando o exército turco obrigou uma massa de cerca de dois milhões de armênios a sair do país e a vagar sem destino, sem mantimentos ou água. Os números de mortos que essa medida provocou chegaram a centenas de milhares, no mínimo, como aponta o historiador Sean McMeekin:

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A remoção por atacado da população armênia instada até então na região oriental da Anatólia em 1915, tenha ela sido premeditada ou executada por conta da obscuridade oportunista da guerra, teve uma importante dimensão estratégica. A presença armênia, como os turcos haviam sido lembrados em 1877, 1894-96 e novamente em 1912-15, deu às grandes potências uma desculpa para intervir. Qualquer que tenha sido a razão do governo para as deportações, as consequências humanas dessa decisão foram horrendas. Ninguém sabe com exatidão o número de armênios que pereceram nas mãos dos batalhões de extermínio, em razão de ferimentos ou de fome e sede, em 1915 e 1916. As estimativas vão de 500 mil a 2 milhões de vítimas. O resultado foi a extinção do povo armênio em grande parte da Anatólia.” [1]

Que houve um brutal massacre é indubitável. Entretanto, ainda hoje o governo turco não reconhece que tais medidas do passado possam ser qualificadas como genocídio. O argumento utilizado é que não houve premeditação. Não houve o plano deliberado de executar a população da Armênia, como houve no caso do nazismo em relação aos judeus. Do outro lado, os armênios alegam que, sim, foi um genocídio, haja vista que a morte dos deportados por fome e sede era certa e os agentes turcos sabiam disso.

É importante que o professor explore esse assunto levando-se em conta os usos da memória que tanto os turcos quantos os armênios fazem do fato. Ao fim da aula, o professor pode pedir aos alunos que desenvolvam um texto reflexivo sobre o que define um genocídio.

NOTAS

[1] MCMEEKIN, Sean. O expresso Berlim-Bagdá: o Império Otomano e a tentativa da Alemanha de conquistar o poder mundial, 1898-1918. (trad. Maria Silva Mourão Netto). São Paulo: Globo, 2011. p. 287.


Por Me. Cláudio Fernandes