Whatsapp

Discutindo a figura do colonizador

Imprimir
Texto:
A+
A-

PUBLICIDADE

Podemos compreender os portugueses como simples dominadores do ambiente colonial?

Em História, a generalização é um tipo comum de interpretação do passado onde o aluno categoriza ou julga um fato ou grupo social por uma mesma perspectiva. Apesar de cercada de problemas, essa fermenta de compreensão pode ser o ponto de partida pelo qual o professor pode salientar várias das nuances nem sempre perceptíveis nos livros didáticos ou na própria relação que o aluno vai construindo com este campo específico das Ciências Humanas.

No estudo do período colonial, por exemplo, muitos alunos (e o próprio educador) correm o sério risco de nivelar a dinâmica das relações sociais entre colonizadores e colonizados ao resumir a mesma em uma simples lógica entre dominadores e dominados. Dessa maneira, o aluno pode chegar à errônea conclusão de que todo o português que aportou em terras brasileiras, entre os séculos XVI e XIX, pensava e agia de uma mesma forma.

Para desconstriur essa visão que simplifica o colonizador lusitano a adjetivos que o colocam como mero “explorador ganancioso”, sugerimos o trabalho em sala com uma crônica de Luís dos Santos Vilhena, português que viveu na cidade de Salvador entre os séculos XVIII e XIX. Na qualidade de exímio observador do cotidiano, este representante da colonização lusitana teceu duras críticas contra as políticas e ações implementadas pelo seu país em terras brasileiras.

Entre tantos registros publicados por essa personagem histórica, sugerimos o seguinte relato que reflete sobre a temática das relações sociais:

“Por que não há de cavar no Brasil aquele que em Portugal só vivia de sua enxada? (...) Por que há de querer mandar quem nada mais soube que obedecer? Por que há de ostentar de nobre quem sempre foi plebeu?”

Por meio dessa interessante declaração, o educador tem oportunidade de salientar as críticas de um sujeito que, em tese, seria beneficiado pelas distinções que organizavam a sociedade colonial brasileira. Ao mesmo tempo, podemos ver no mesmo relato uma característica peculiar do ambiente colonial, onde o exercício do trabalho braçal era interpretado enquanto uma atividade destinada aos indivíduos que ocupavam uma posição social inferior.

Dessa forma, o professor de História demonstra que os homens dessa época poderiam integrar a ordem vigente, bem como de alguma forma criticá-la. Além disso, a discussão desse tipo de material em sala abre caminho para que a postura dos alunos com relação ao passado passe por uma sensível transformação. Antes de aceitar uma possível generalização dos fatos, terão o interesse de descobrir e questionar outras possibilidades de compreensão de um determinado período.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)