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O fim do professor palestrante

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Inserir o aluno nas discussões históricas: uma nova proposta de ensino no ambiente escolar.

Na prática cotidiana, os professores lecionam História sem ao menos se dar conta de pequenos detalhes relevantes. Perante o grupo de alunos fala sobre personagens históricos, períodos revolucionários, datas e curiosidades. O professor se transforma em um grande discursante aflito e preocupado em passar para aos alunos a “segurança” que ele mesmo “viveu” na história que conta.

Tal postura não passa de um mero engano pelo qual o professor pretensamente acredita repassar os conhecimentos históricos de maneira eficaz. Muitas vezes o docente se envaidece com a possibilidade de falar sobre cinco, dez, vinte, ou até mesmo, um século de História em apenas cinqüenta minutos de aula. Em resposta, muitos alunos chegam a despertar interesse pelo conteúdo e admirar como seu orientador é capaz de acumular tanto conhecimento.

No entanto, devemos nos lembrar que as turmas em que lecionamos não são meramente compostas por alunos que amam os conteúdos de História. Devido a questões pessoais ou algum tipo de déficit de aprendizado, o aluno não consegue internalizar o sentido de uma narrativa construída pelo professor. Há alguns casos em que, mesmo o aluno gostando da aula dada, o problema pode se manifestar fora de sala de aula. Muitos chegam a dizer: “Na hora que o professor diz, eu entendo tudo. Quando volto para casa, não entendo mais nada”.

Esse tipo de situação gera muita frustração tanto para pais quanto para professores e alunos. Os responsáveis se perdem no caminho para escolher a metodologia a ser adotada mediante a dificuldade do filho. Os alunos acabam não vendo sentido no que aprendem ou culpando a si mesmos por não reproduzirem o que foi “tão bem explicado” pelo professor. O docente não sabe como é possível o aluno não entender o que ele diz ou simplesmente define os grupinhos daqueles que gostam e os que não têm “aptidão natural” para entender História.

Não buscamos aqui abolir a importância de o professor ter uma boa dicção e fluência ao falar. No entanto, no caso da História, pelo fato de ser uma matéria que exige a apropriação de conceitos abstratos ou a compreensão de tempos distantes, nos preocupamos em relativizar a ação predominante do professor. A inserção do aluno na narrativa se torna um ponto-chave para que as idéias trabalhadas se tornem palatáveis aos que gostam, odeiam ou sentem dificuldade com os conteúdos de História.

É bem verdade que a limitação de recursos em determinados ambientes escolares, a formação deficitária de alguns docentes e outros fatores conjunturais podem impedir esse tipo de proposta. Ainda assim, exortamos aos educadores para que tenham a preocupação de descentralizar sua função em sala de aula, permitindo aos seus aprendizes que possam opinar ou aproximar o tema em questão para os assuntos cotidianos.

A Pré-História, o populismo na América Latina ou as relações de trabalho no ambiente feudal podem ser trabalhados a partir de ilustrações simples pelas quais o contraste com os valores entre tempos históricos distintos, por fim, aproximam a atenção do aluno para o passado. Mesmo correndo os riscos de cometer algum tipo de “anacronismo” (o que é natural tanto para alunos, quanto para os professores), devemos valorizar a função pedagógica que noções preconceituosas ou equivocadas podem trazer à tona no ambiente de sala de aula.

Dessa forma, o professor de História deve (ou deveria) assumir uma nova função em sua prática cotidiana. O invejável e culto discursante sairia de cena para dar lugar ao condutor de um fórum de debates, onde as opiniões sejam devidamente provocadas para o bem dos alunos e da matéria. Vale lembrar que a adoção dessa nova postura demanda disposição e coragem. Não seremos capazes de transformar um costume do dia para a noite. Para os que encaram com bons olhos o desafio, fica o convite.

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Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola