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Os burgueses, os exércitos e o poder real

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A questão dos exércitos revela outro lado do processo de formação das monarquias europeias.
A questão dos exércitos revela outro lado do processo de formação das monarquias europeias.

Ao debater sobre o processo de formação das monarquias nacionais, vemos que muitos professores não se atentam a explicar de maneira mais detalhada, o famoso processo de aliança política ocorrido entre a burguesia e a autoridade real. No máximo, essa explicação se presta a falar do interesse que a burguesia tinha em padronizar os impostos e as moedas nacionais. Assim, são poucas as vezes em que o impacto dessa aliança política é questionado de forma mais acurada.

Para que essa questão seja devidamente apresentada, acreditamos que a formação dos exércitos seja um ponto de grande utilidade. Afinal de contas, o processo de reafirmação da autoridade monárquica perpassou a formação de forças militares capazes de subjugarem, paulatinamente, a autoridade local exercida por um senhor feudal, seus vassalos e demais cavaleiros. Ao mesmo tempo, devemos salientar de que forma a burguesia participou na mobilização das forças legitimadoras de um novo poder.

Interessados em debater tal ponto, indicamos aos professores a atenta análise a uma passagem da obra “História da Riqueza do Homem”, produzida pelo pensador norte-americano, Leo Huberman. Oferecendo uma cópia do documento a cada um dos alunos, indicamos a discussão da referida passagem:

“ [...] O rei fora um aliado forte nas cidades na luta contra os senhores. Tudo o que reduzisse a força dos barões fortalecia o poder real. Em recompensa pela sua ajuda, os cidadãos estavam prontos a auxiliá-lo com empréstimos em dinheiro. Isso era importante, porque com o dinheiro o rei podia dispensar a ajuda militar de seus vassalos. Podia contratar e pagar um exército pronto, sempre a seu serviço, sem depender da lealdade de um senhor. Seria também um exército melhor, porque tinha uma única ocupação: lutar. Os soldados feudais não tinham preparo, nem organização regular que lhes permitisse atuar em conjunto, com harmonia. Por isso, um exército pago para combater, bem treinado e disciplinado, e sempre pronto quando dele se necessitava, constituía um grande avanço” (HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro, 1977, p. 80 - 81)

Mediante a leitura desse trecho, vemos a observação de uma rica análise sobre a tão mal explicada aliança entre o rei e a burguesia. Em primeiro plano, vemos que a burguesia proporcionava recursos financeiros ao rei, não oferecendo somente a possibilidade de formar um exército maior e mais bem equipado. Os exércitos reais que, progressivamente suplantaram o poder local, recebiam parte desses recursos e não se organizavam somente a partir das relações de fidelidade vigentes desde os tempos medievais.

A possibilidade de formar exércitos pagos oferecia a vantagem de ter domínio de uma força militar, disposta a combater em troca de um favorecimento material imediato. Em contrapartida, os tradicionais exércitos medievais eram instituídos pelas obrigações que as relações de suserania e vassalagem impunham os nobres de um determinado território. Enquanto o primeiro exército tinha como única ocupação, a luta, o último se juntava somente em função de uma ocasião específica.

Feitas essas considerações, a partir da leitura do texto, podemos ver que o processo de formação das monarquias nacionais pode ser visto com muito mais detalhe e riqueza pelo professor e os seus alunos. Mais que uma simples transformação, a centralização política do continente europeu abriu campo para outras mudanças que extrapolavam a simples aliança entre rei e burguesia.


Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola

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