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Propriedade: uma questão do Iluminismo

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Rousseau e Locke: integrantes de um mesmo movimento com diferentes perspectivas.
Rousseau e Locke: integrantes de um mesmo movimento com diferentes perspectivas.

Ao explicar algum tipo de movimento de idéias, o professor deve obviamente demonstrar quais são os principais valores que norteiam esse mesmo processo histórico. No caso do movimento iluminista costuma-se salientar de maneira sistemática como seus pensadores se preocupavam em evidenciar as leis naturais que deveriam ser racionalmente utilizadas na explicação das melhores formas de guiar o homem em sociedade.

No entanto, na pressa de um conteúdo atrasado ou no costume dos velhos resumos, acaba deixando de lado o lado múltiplo que marcou esse mesmo movimento. Para que seja possível compreender essa questão, o professor pode propor uma atividade a fim de refletir sobre a questão da propriedade privada nas obras de John Locke e Jean-Jacques Rousseau. A partir de então, a turma pode ter outra perspectiva sobre a experiência iluminista.

De maneira inicial, o professor pode trazer aos alunos um trecho da obra “Dois Tratados sobre o Governo”, onde John Locke salienta a seguinte perspectiva:

"Cada homem tem uma propriedade em sua própria pessoa. A esta ninguém tem direito algum além dele mesmo. O trabalho de seu corpo e a obra de suas mãos, pode-se dizer, são propriamente dele. Qualquer coisa que ele então retire do estado com que a natureza a proveu e deixou, mistura-a ele com o seu trabalho e lhe junta algo que é seu, transformando-a em sua propriedade." (Locke, John. Dois tratados sobre o governo. Martins Fontes, São Paulo, 1998, p. 409.)

Após a leitura individual e coletiva do texto, peça que os alunos façam uma sucinta explicação sobre como seu pensamento trata da questão da propriedade. Depois disso, escolha alguns alunos para defenderem ou criticarem a posição adotada por John Locke. Feita essa primeira discussão, ofereça à turma o seguinte trecho da obra “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” do francês Jean-Jacques Rousseau:

“O primeiro que, tendo cercado um terreno, arriscou-se a dizer ”isso é meu”(...) foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, mortes, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas... tivesse gritado “Fugi às palavras desse impostor...” (...) destruíram de maneira irremediável a liberdade natural, fixaram para sempre a lei da propriedade e da desigualdade (...) sujeitaram daí em diante todo o gênero humano ao trabalho, à servidão e à miséria.” (Rousseau, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Ática, São Paulo, 1989)

Com essa nova perspectiva apresentada, o professor pode pedir que os alunos comparem a idéia de cada um dos autores realizando uma nova atividade. Em primeira hipótese podemos sugerir a produção de um pequeno texto comparativo e um comentário onde o aluno possa justificar qual das duas idéias mais lhe agrada. Nas séries do fundamental, o professor ainda pode sugerir a produção de um painel ilustrado ou gravura que represente a perspectiva de cada autor.

Dessa maneira, o professor demonstra aos alunos dois aspectos interessantes relacionados ao estudo da história. Primeiramente, mostra à sala que o conceito de “lei natural”, defendido por vários iluministas, pode ser questionado pela discrepância entre autores utilizados. Além disso, demonstra que os movimentos intelectuais não são dotados de uma unidade estrita de pensamento.

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Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola