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Religiosidade Colonial

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A Festa da Boa Morte: manifestação de uma irmandade religiosa baiana oriunda dos tempos coloniais.

Segregação, trabalho e interesse são os mais comuns itens pelos quais os livros de História resgatam o nosso passado colonial. Nesse sentido, vemos o grande destaque dado ao tema com a configuração de uma hierarquia de valores que vai do europeu colonizador ao escravo africano. As relações de dominação e controle são colocadas em um patamar onde os grupos sociais subalternos não tinham nenhuma autonomia.

No entanto, essa premissa que reconstrói a sociedade escravocrata desconsidera o peso das manifestações culturais nesse contexto. Por isso, ao considerar as características do Brasil Colônia, o professor deve lembrar-se dos aspectos mais dinâmicos da cultura colonial, colocando em termo de relatividade a questão da dominação. Para tanto, indicamos o estudo da religiosidade colonial enquanto grande fonte de reflexão para o tema.

Primeiramente, é necessário abordar os interesses da Igreja por de trás do empreendimento colonial americano. Na Europa, a efervescência das novas confissões cristãs colocava em risco a anterior hegemonia da Igreja Católica no Velho Continente. Institucionalizando-se na América, o poder clerical poderia obter uma nova leva de convertidos dentre as populações indígenas e escravas do continente americano.

Além disso, o deslocamento de cristãos para regiões onde a fé católica não estaria presente, poderia consolidar uma outra ameaça. Portanto, a vinda da Igreja para o Brasil tinha fundamental importância para que os colonizadores europeus se mantivessem firmes em sua fé. Esses seriam os pontos mais generalizantes do argumento que explica a vida do catolicismo para o Brasil. No entanto, a Igreja limitou o seu papel histórico a essas duas únicas questões?

Certamente não. Ao assinalar a contribuição da Igreja no processo de colonização, o professor deve destacar como a relação entre os colonizadores e a Igreja perpassava por constantes conflitos. A questão da escravidão indígena, tão procurada em regiões menos privilegiadas da economia colonial, provocou diversas situações de conflito armado entre bandeirantes e os padres jesuítas, por exemplo. Dessa maneira, notamos como as visões de mundo dos empreendedores coloniais e dos religiosos eram divergentes.

Outro aspecto relevante pode ser constatado quando o professor destaca como a Igreja funcionava enquanto um espaço de sociabilidades. As diversas igrejas construídas ao longo de nossa história, mais do que reforçarem a presença da instituição em nosso espaço, configurava uma movimentação social que atingia diferentes extratos da população colonial.

No interior das igrejas eram formadas irmandades lideradas por diferentes grupos sociais. Dentro de cada uma delas, existiam papéis de liderança e solidariedade exercidos entre negros, mestiços ou brancos. Mesmo havendo a separação entre as igrejas dos “pobres” e dos “ricos”, é possível destacar como essas irmandades criavam vínculos de afetividade e práticas culturais capazes de relativizar a “lógica da opressão”.

Dessa forma, o professor desmistifica uma história de oposições que somente instrui o aluno a acreditar em uma narrativa histórica dualista. Ao mesmo tempo, reforça que a cultura de um povo não está necessariamente atrelada a determinados níveis de racionalidade ou liberdade pré-determinados. Com as fontes corretas em um pouco de pesquisa, reconta-se a História do nosso país.

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Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola