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Revelando intenções comunicativas

Revelar intenções comunicativas representa uma proposta metodológica altamente eficaz para a compreensão das funções da linguagem.
As intenções comunicativas aqui propostas estão voltadas para as características das funções da linguagem
As intenções comunicativas aqui propostas estão voltadas para as características das funções da linguagem
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Muito se fala em emissor, receptor, mensagem, canal,entre outros elementos referentes ao processo comunicativo. Tais elementos, assim como muitos outros, tornam-se interiorizados num dado momento e pronto... Estamos falando do processo de aprendizagem, obviamente. Determinadas circunstâncias nos mostram que tudo parece tão mecanizado que, passados alguns dias, voltar ao conteúdo que foi administrado significa não uma retomada de conhecimentos, mas sim uma nova apreensão daquilo que já fora esquecido.

Em face dessa realidade é sempre bom retomar alguns conceitos e analisar os caminhos pelos quais se percorre em se tratando dos processos metodológicos utilizados mediante o laborioso exercício dessa profissão.

Entre tantos louváveis procedimentos, figura o da prática de aliar conhecimento à realidade vivenciada pelos educandos. Dessa forma, quando o assunto diz respeito às interações sociais, torna-se imperioso que o aluno compreenda que tanto na condição de emissor quanto na de interlocutor as mensagens que emitimos e recebemos cumprem um papel fundamental: o de atingir o objetivo por elas proposto. 

No intento de conduzir tais informações à prática cotidiana, experimente levá-los a refletir sobre experiências rotineiras, tais como: ler e/ou assistir a um (tele)jornal, telefonar para alguém, deixar-se seduzir por uma propaganda ou por um anúncio publicitário, sentir-se comovido por uma poesia, buscar o sentido de uma palavra no dicionário, entre outras situações. Todas elas, ao serem analisadas, levantam uma questão: qual seria o propósito firmado mediante a comunicação?

A situação em si parece ser convidativa para uma discussão mais aprofundada. Assim, procure aproveitar ao máximo as opiniões de cada um dos aprendizes. Feito isso, nada mais interessante que propor uma exposição mais detalhada do assunto, mediada, é claro, pelo próprio educador. Depois, a fim de que o ensino e a aprendizagem se materializem, algumas sugestões parecem revelar sua parcela de contribuição rumo à conquista de tais intentos. Entre elas:

* Após a subdivisão dos grupos, ao sair do colégio, ou até mesmo em outras circunstâncias vividas diariamente, sugira que um dos grupos fique encarregado de observar outdoors, painéis, panfletos, propagandas televisivas, entre outros, procurando observar os modos verbais, o tipo de linguagem empregada (se conotativa ou denotativa), entre outros aspectos. Teremos, assim, a função conativa ou apelativa.

* Outro grupo ficará encarregado de levar para a sala de aula reportagens, notícias, editoriais, receitas culinárias, manuais de instrução, placas de trânsito e realizar o mesmo procedimento, tendo em vista as características linguísticas nas modalidades em estudo. Certamente que estaremos diante da função denotativa ou referencial da linguagem.

* Outro grupo poderá encenar uma situação na qual se estabeleça um diálogo entre emissor e receptor via telefone, atentando-se para o prolongamento da comunicação. Constituindo, portanto, a função fática.  

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* Poderá haver aquele grupo cuja incumbência será analisar dois poemas de João Cabral de Melo Neto, como os abaixo expressos, tendo em vista o poder de criação advindo do ato da escrita. Estaremos diante da função metalinguística, na qual se utiliza o código para explicar o próprio código.   

Catar feijão

1.

Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.

Tecendo a Manhã 

1.  
Um galo sozinho não tece uma manhã:  
ele precisará sempre de outros galos.  

De um que apanhe esse grito que ele  
e o lance a outro; de um outro galo  
que apanhe o grito de um galo antes  
e o lance a outro; e de outros galos  
que com muitos outros galos se cruzem  
os fios de sol de seus gritos de galo,  
para que a manhã, desde uma teia tênue,  
se vá tecendo, entre todos os galos.      

2.  
E se encorpando em tela, entre todos,  
se erguendo tenda, onde entrem todos,  
se entretendendo para todos, no toldo  
(a manhã) que plana livre de armação.  

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo  
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

* Por fim haverá aquele grupo cuja proposta será levar poemas para a sala de aula, no sentido de analisar as intenções comunicativas relevadas pelo emissor, sobretudo demarcadas pelo “eu” poético.  Nesse ínterim, alguns aspectos devem ser levados em consideração, tais como a presença ou não de rimas, sonoridades, enfim, os recursos estilísticos vistos de uma forma geral. Estaremos diante da função poética da linguagem, sem nenhuma dúvida.  

Indubitavelmente todos os grupos demonstrarão os resultados colhidos mediante a análise de cada material observado. Assim sendo, contando com o auxílio do educador, a apreensão das características e dos aspectos relevantes abordados se efetivará. Dessa forma “as funções da linguagem” não representarão apenas um conteúdo a mais a ser visto, mas sim algo apreendido e, sobretudo, compreendido na memória de cada um – pronto para ser colocado em prática quando necessário for.


Por Vânia Duarte
Graduada em Letras