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Sugestão de aula sobre a tensão social na França pré-revolucionária

Por meio desta sugestão de aula sobre a tensão social na França pré-revolucionária, o professor poderá incrementar suas aulas sobre esse período histórico.
Massa popular insurgente dirigindo-se à prisão da Bastilha
Massa popular insurgente dirigindo-se à prisão da Bastilha
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Quando se inicia o conteúdo de História Contemporânea, sobretudo para o ensino médio, o tema da Revolução Francesa (1789) tem um peso crucial. Entretanto, algumas vezes, o professor concentra-se demasiadamente em ministrar aulas que explicitem os eventos que caracterizaram o processo revolucionário francês sem, contudo, deixar claro aos alunos – às vezes por falta de tempo e de recursos – quais eram as reivindicações pontuais do então denominado “Terceiro Estado”.

Ao professor cabe, evidentemente, o papel de expor aos alunos a estrutura geral da sociedade do Antigo Regime francês. Dessa forma, deve analisar a divisão entre os três estados (Clero, Aristocracia e Burguesia) e evidenciar a busca dos burgueses por legitimação política, bem como as críticas que eles faziam aos outros dois estados, sobretudo as críticas aos privilégios que alguns membros da Igreja e os aristocratas mantinham às custas de impostos, etc., e a tensão social que tais críticas passaram a gerar.

Entretanto, para fixar essa etapa do conteúdo, uma estratégia pode ser aplicada. Trata-se da leitura e análise de textos das reivindicações da camada burguesa da sociedade francesa da época. Mais de um documento pode ser explorado, e aqui sugerimos dois. Veja os trechos:

Nós, habitantes da paróquia de Longey abaixo-assinados, tendo nos reunido em virtude das ordens do Rei, na sexta-feira, dia 6 do presente mês de maio de 1789, resolvemos o que segue: Pedimos que todos os privilégios sejam abolidos. Declaramos que se alguém merece ter privilégios e gozar isenções, são estes sem contradição, os habitantes do campo, pois são os mais úteis ao Estado, porque por seu trabalho o fazem viver. […] Que até hoje foram os únicos a pagar os exorbitantes impostos de que esta província está carregada; que os campos estão arruinados e os cultivadores na impossibilidade de poder manter e criar a sua família; que à maior parte falta o pão, visto os impostos que os sobrecarregam e as perdas que experimentam todos os anos, seja pela caça, seja por outros flagelos.” [1]

Esse é um trecho do Caderno de reclamações do Terceiro Estado da Paróquia de Longey que, como visto, data de maio de 1789, mês em que houve a convocação dos Estados Gerais. Sabemos que, de maio a julho de 1789, os primeiros passos da revolução foram dados. Inicialmente houve a rejeição do antigo sistema de voto executado nos Estados Gerais, já que o Terceiro Estado era sempre vencido pelos dois votos dos outros Estados. No trecho acima, estão claras as críticas feitas aos privilégios que Aristocracia e Clero nutriam às custas da burguesia e dos trabalhadores. O professor, inicialmente, pode, a partir desse trecho, contextualizar o momento do ano de 1789 em que a reivindicação foi feita.

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O segundo trecho que trazemos é do texto da reivindicação da burguesia de Nancy, também de mesmo período. Entretanto, o foco é a convocação de uma nova Assembleia Nacional Constituinte:

1º – A Assembleia exige que a pessoa dos deputados aos Estados Gerais seja inviolável e sagrada […].

3º – A Assembleia exige que fique irrevogavelmente estabelecido que o terceiro estado tenha, nas assembleias da nação, pelo menos tantos deputados quanto as duas outras ordens em conjunto; que as deliberações sejam tomadas pelas três ordens reunidas e que os votos sejam contados individualmente. […].”[2]

A proposta burguesa de uma nova assembleia visava acabar com o modelo de decisão dos Estados Gerais e romper, de fato, com a configuração política do Absolutismo monárquico, erigindo assim uma constituição cidadã. No texto, há o apelo para a contagem do voto individualmente, e não por Estados, como se fazia. Sabemos que a Assembleia foi reunida em julho de 1789 e, nesse mesmo mês, houve a tomada da prisão de Bastilha. Por intermédio desses documentos, o professor pode explicitar quão decisivos foram esses três meses no contexto da Revolução Francesa.

Para fechar a análise, ficaria a critério do professor a proposta de uma atividade, que poderia ser: comparar as reivindicações dessa época com algum texto de reivindicações recentes por direitos políticos.

[1] In: MATTOSO, Kátia M. De Queirós. Textos e documentos para o estudo da história contemporânea, 1789-1963. São Paulo: Huicitec/Edusp, 1977.

[2] Coletânea de documentos históricos para o 1º grau. São Paulo: SE/Cenp, 1980.


Por Me. Cláudio Fernandes