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Autonomia docente como pano de fundo

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O planejamento integral da educação, ajustado em um ambiente democrático e de efetivação do projeto educacional, fica muitas vezes comprometido pela ação social e política, que busca definir-se mais pelo referencial normativo e legal, na intenção de controle e regulação. A política educacional adotada relega a pano de fundo o maior significado da educação. O ideário pedagógico deveria enfatizar a educação para a cidadania, para a participação política, para construir a tradição, para a vida real.

Atualmente é priorizado o educar para a competitividade, educar para o comércio, educar para a globalização sustentada pela economia, pela industria da produção e do consumo, dentro do contexto do capitalismo.A definição de novas habilidades e competências dos estudantes é solicitada para atender ao mundo do trabalho, e as qualificações vão sendo determinadas não só para o aprendizado profissional, mas também para a vida competitiva em sociedade, agregando a cultura da modernidade.

Torna-se cada vez mais evidente o contorno de políticas públicas educacionais desvinculadas de diálogo com os educadores, fazendo com que as reformas educativas dependam exclusivamente da capacidade política do governo, dos grupos econômicos, e dos meios de comunicação social, sem levar em consideração o protagonismo dos docentes, peças chaves e desejáveis em uma sociedade democrática. Ausentes estes sujeitos e as contribuições dos diferentes atores, a educação se reduz à relação custo-benefício, omitindo valores essenciais para a educação do ser humano, levando a mercantilização da educação e à padronização do conhecimento, enfatizando a exclusão social.

A autonomia da escola e dos docentes é gerenciada e está vinculada ao papel social e político da educação. A autonomia democrática deve ser originada na participação, cooperação e parceria e necessita oportunizar as vozes dos docentes e da comunidade, sem que haja monitoramento e controle. O que se nota é que a ação decisória das políticas públicas educativas continua centralizada e os professores só são chamados a participar na implantação das reformas, inexistindo diálogo para a elaboração das mesmas, não propiciando a consolidação da democracia. De acordo com Pierre Boudieu: “Toda ação pedagógica é objetivamente uma violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário, de arbitrariedade cultural”.

Não podemos negar o papel proeminente das políticas públicas como máquina de educar construída pela interferência do capital, que pode ser inegavelmente transformada e reconstruída a partir da oposição e da intercessão crítica dos educadores, porque o ambienteescolar é o lugar ideal de produção e reprodução de identidades sociais e culturais. O filme de Bertrand Tavernier “Quando Tudo Começa” retrata bem as muitas escolas brasileiras, que resistem, mais por eficácia e amor de seus educadores do que por vontade política. Quanto aos educadores, devemos reverter a situação, redescobrindo a força socializadora da escola, na perspectiva política da inclusão social, garantindo o direito a educação, acreditando em uma aprendizagem transformadora, buscando uma prática pedagógica de novas metodologias e estratégias de ensino, e reafirmando a necessidade de promoção qualitativa de nossos educandos.
Referência: SILVA, S. B. e Machado L. M. (Org.). Nova LDB – trajetória para a cidadania?

Por Amélia Hamze
Colunista Brasil Escola

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