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Educação Indígena

A educação Indígena tem uma preocupação em valorizar a cultura tradicional em diálogo com as necessidades atuais.
Índio Pataxó Tucum Airi fala sobre a educação indígena e elementos da sua cultura *
Índio Pataxó Tucum Airi fala sobre a educação indígena e elementos da sua cultura *
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O Dia do Índio, comemorado no dia 19 de Abril, é uma ótima oportunidade para conhecermos as diversas etnias que sobrevivem no nosso território. Em uma passagem por Coroa Vermelha (Santa Cruz Cabrália - BA) conheci uma aldeia da etnia Pataxó. Entre as pessoas com as quais conversei, estava o índio Tucum Airi – nome que, segundo ele, significa “pé de árvore”. Na Aldeia habitam aproximadamente 1600 famílias que vivem do comércio, agricultura, pesca, empregos públicos, artesanato e, principalmente, o etnoturismo.

Preocupado com a preservação da cultura e da tradição, Tucum Airi nos contou sobre como isso tem sido ênfase na escola da sua aldeia. Nela, todos os profissionais e alunos são indígenas. Além das disciplinas curriculares, ensina-se também a língua nativa, o patxohã, que significa a língua do pataxó guerreiro. Também são ensinadas músicas compostas pelos antepassados e que contém elementos que faziam parte de sua vivência e preciosos ensinamentos a respeito da vida. Tucum Airi disse que, infelizmente, os jovens (kitoke) têm deixado perder muitas músicas, mesmo aquelas que foram compostas originalmente em português, como o “Hino do Pataxó”.

Há outros elementos presentes na educação escolar indígena como a medicina tradicional, baseada no uso de plantas, minerais e animais com propriedades curativas. Também incluem a discussão de temas relacionados à vida na aldeia, à história do povo, à religião. Com o desenvolvimento do Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais Indígenas (PROLIND), os professores das escolas indígenas puderam aprofundar seus conhecimentos, antes restritos ao Ensino Médio, e agora trazem para seus alunos elementos da cultura branca, formas de vida e temas que preocupam.

O papel mais importante da escola indígena, para Tucum Airi, é o de integrar as crianças e os adolescentes à comunidade, à vida na aldeia, seja aprendendo a conviver uns com os outros, seja aprendendo a se relacionar com os saberes desenvolvidos por seus antepassados. Fundamental, dentro desse projeto educativo, é o respeito à fauna e à flora: a área florestal de que dispõem deve ser preservada para as gerações seguintes.

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No Projeto Político Pedagógico da Escola Indígena Pataxó Coroa Vermelha, encontramos a seguinte definição de educação:

“Entre os povos indígenas, a educação se assenta em princípios que lhes são próprios, dentre os quais: uma visão de sociedade que transcende as relações entre os humanos e admite diversos 'seres' e forças da natureza com os quais estabelecem relações de cooperação e intercâmbio a fim de adquirir e assegurar determinadas qualidades: Solidariedade, justiça, responsabilidade, compromisso, limites, disciplina, respeito, com direito a liberdade e fraternidade. Assegurando ainda, habilidades para que o educando enfrente o mercado de trabalho com opiniões próprias respeitando as decisões de cada grupo social”.

A Escola de Coroa Vermelha iniciou uma pesquisa para o resgate da tradição e da cultura, ensinando cerimônias e ritos aos seus jovens, a fim de retomar o modo de vida tradicional e de reafirmação de sua identidade, constantemente contestada pelos turistas e população local não indígena, que não acreditam que eles sejam “índios o suficiente”. Por esse motivo, realizam exposições culturais abertas, além dos Jogos Indígenas realizados em Abril em comemoração ao dia 19. Além disso, no esforço para se sentirem respeitados, os indígenas fazem cursos de etnoturismo, para aprenderem a contar sobre suas culturas e a fazer com que os não indígenas conheçam a história do seu povo e entendam a relevância das questões que enfrentam, como o abuso sexual de mulheres indígenas por homens não indígenas e a perda de território.

Outro ponto interessante da escola indígena é a realização de atividades abertas aos pais e aos anciãos, como a Noite Cultural, na qual todos se vestem com o tupisay (roupa feita de lasca de madeira), comem receitas aprendidas com os mais velhos e ouvem ensinamentos dos anciãos. Desse modo, toda a comunidade se sente religada às suas manifestações originais e desenham o futuro da etnia Pataxó.

*Créditos da imagem: Arquivo pessoal.


Por Wigvan Pereira
Graduado em Filosofia