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Língua culta como variedade de prestígio

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Língua culta como variedade de prestígio relacionada, sobretudo, à escrita

O título que ora se evidencia nos contextualiza a uma relevante questão: o fato de as práticas educativas priorizarem apenas a gramática normativa e não darem enfoque também às demais variedades linguísticas.

Nesse sentido, antes de prosseguirmos com a discussão em pauta, ater-nos-emos a algumas imagens, por sinal, um tanto quanto pertinentes:

Apesar de alguns “desvios”, houve entendimento entre os interlocutores


A ausência de normas gramaticais em nada implicou na materialização do discurso

Em se tratando de tais práticas, um fator de extrema relevância parece “emergir” dentre a discussão formada – o fato de que o aluno, enquanto aprendiz dos compêndios gramaticais, traz junto de si o que denominamos de gramática internalizada. Essa, por sua vez, representa o fruto de suas relações com o meio em que vive, ou seja, de acordo com suas experiências linguísticas, ele já possui um conceito predeterminado acerca das leis combinatórias que norteiam a língua, ainda que ausentes de quaisquer formalismos. 

Dessa forma, retomemos ao segundo exemplo, no qual o anunciador, mesmo demonstrando não ter muito domínio acerca dos fatos gramaticais, deixou evidenciadas algumas marcas notórias, tais como a construção de todos enunciados contendo um sujeito e um predicado:
“Nóis erra” / “Quem reclamá”/ “Nóis expulsa”.

Partindo dessa premissa, torna-se importante repensarmos algumas posturas no que se refere à concepção da variedade padrão da linguagem, a começar pela análise do esquema a seguir:  

Adequabilidade e aceitabilidade são pressupostos que deverão nortear o ensino

  
A partir do esquema em questão, podemos aliá-lo aos exemplos anteriormente mencionados, visto que eles não se encontram adequados tendo em vista a variedade linguística padrão, contudo, concebem-se como aceitos em outras situações de interlocução, pois essa, independente de quaisquer fatores, materializou-se.

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Assim sendo, faz-se necessário que o educador se preste ao exercício de evidenciar uma simples comparação, uma vez manifestada entre o uso da língua e nossos trajes diários. Ora, adequamo-los de acordo com as distintas situações cotidianas, desde as mais simples (como é o caso de irmos ao clube, por exemplo), até as mais complexas (como, por exemplo, um traje relativo a uma solenidade formal). Há situações nas quais a adequabilidade se torna requisito fundamental, como é o caso da linguagem escrita, vista sob todos os sentidos, compreendendo desde uma redação até uma entrevista de emprego, ou um exame de vestibular e/ou concurso.

É importante também salientar que estamos inseridos em uma sociedade letrada e, como tal, apropriar-se das regras que regem a língua é, sobretudo, apropriar-se de um bem cultural, uma vez que esse domínio contribui de forma significativa para aumentar o poder de persuasão de todo falante.

Mas, enfim, qual postura o aluno deverá assumir diante da linguagem coloquial e demais registros? De desprezo? Obviamente que não, uma vez que representam as demais variedades linguísticas utilizadas como meio de interação. Para tanto, como sugestão, o educador pode apoiar-se na criação artística de Oswald de Andrade, intitulada “Pronominais”, e fazer dela base para apontamentos posteriores, os quais revelem essa noção voltada para as tantas variações:

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

                   Oswald de Andrade


Por Vânia Duarte
Graduada em Letras