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Sociologia

A institucionalização da Sociologia na escola trouxe-nos novos desafios, que devem ser superados nesse novo contexto que se apresenta.
A sala de aula é tanto onde continuamos a aprender quanto onde começamos a educar
A sala de aula é tanto onde continuamos a aprender quanto onde começamos a educar
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A escola sempre foi um enorme objeto de estudo para a Sociologia, mas apenas muito recentemente – embora já fizesse parte das grades curriculares das escolas em alguns estados – os estudos sociológicos passaram a fazer parte da realidade escolar como matéria plenamente definida e com a obrigatoriedade de que fosse ministrada por um profissional formado em Sociologia.

A tardia institucionalização da Sociologia no ensino básico trouxe a boa notícia que Florestan Fernandes esperava e já anunciava em 1954, na ocasião do I Congresso de Sociologia Brasileira: “A questão de se saber se a sociologia deve ou não ser ensinada no curso secundário se coloca entre os temas de maior responsabilidade, com que precisam se defrontar os sociólogos no Brasil”*. Essa frase, que abre o texto “O ensino da sociologia na escola secundária brasileira”, evidencia a preocupação de Florestan com os rumos da Sociologia brasileira em relação ao seu papel de agente transformador quando inserida no processo educativo, mas ainda também como objeto em transformação diante do contato com a experiência escolar.

Mais de 50 anos depois da afirmação de Florestan Fernandes, o “problema” inicial está resolvido. A institucionalização da Sociologia na escola é uma realidade. Entretanto, como não deixaria de ser, esbarramos em outro problema fundamental: a ausência tão prolongada da matéria no meio escolar deixou um enorme deficit no quesito de estratégias de ensino voltadas para esse ambiente. A complexidade dos assuntos tratados pela abordagem sociológica torna-se um desafio para o professor na sua tarefa de proporcionar meios para que o aluno consiga compreender a infinidade de conceitos, ideias, teorias, aferições e o próprio processo de construção do conhecimento sociológico. Diante disso, nossa nova preocupação é tornarmo-nos compreensíveis e tentar despertar o interesse do aluno para o novo mundo de conhecimento que se apresenta.

Como bem sabemos, a experiência pedagógica que nos é proporcionada no meio acadêmico ainda é rasa e não proporciona uma real dimensão do que é a sala de aula para os novos professores de Sociologia que se formam. O escasso contato com o ambiente escolar e o enorme contato com a densa realidade acadêmica acabam interiorizando hábitos e expressões impróprios para a realidade da escola. Assim, maneirismos e o hábito da escrita acadêmica acabam prejudicando a comunicação entre professor e aluno. No final, acabamos ouvindo o famigerado “a Sociologia só serve pra complicar tudo!”.

Porém, não entenda o colega ou os alunos que porventura vieram até aqui que sugiro o assingelamento da matéria em nome do pressuposto da ignorância do aluno. Seria um enorme equívoco tratar o sujeito em formação como um recipiente vazio de conhecimento, pronto para ser preenchido com o que consideramos como verdadeiro conhecimento. Entendo que o processo educativo é uma via de mão dupla, isto é, um professor não entra em uma sala de aula apenas para ensinar, mas também para aprender. Entretanto, é preciso cuidar para que a linguagem não se torne uma enorme barreira no meio desse processo.

Há ainda o problema do distanciamento da realidade do aluno com aquilo que trabalhamos em sala de aula. Muitas vezes, acaba tornando-se uma tarefa enfadonha e difícil para o aluno assimilar o que é trabalhado em sala quando os questionamentos e problemas tratados em uma aula no interior do estado de Goiás, por exemplo, estão contextualizados na realidade da cidade de Londres. Isso, entretanto, não quer dizer que devamos restringir o alcance de nossas abordagens, mas que devemos, sim, trazer a Sociologia para mais perto da realidade de nossos alunos.

É com essa perspectiva que apresentamos a seção de Estratégias de Ensino para o educador da área de Sociologia. Buscaremos enriquecer o conjunto de ferramentas pedagógicas para que o professor tenha uma gama maior de pontos de apoio na monumental tarefa que é fazer parte da construção do sujeito-cidadão.

Referência: FERNANDES, Florestan. O ensino da Sociologia na escola secundária brasileira. In: A Sociologia no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1975. Originalmente publicado nos Anais do I Congresso Brasileiro de Sociologia, 21-27 de junho de 1954, em São Paulo.


Por Lucas Oliveira
Graduado em Sociologia