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A crise do milagre econômico e o movimento operário

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O colapso do milagre econômico determinou as primeiras manifestações contra o regime militar no Brasil.
O colapso do milagre econômico determinou as primeiras manifestações contra o regime militar no Brasil.

Estudar o “milagre econômico”, na condição de fenômeno acontecido durante a Ditadura Militar, implica na consideração de seu impacto nas mais diferenciadas vertentes. Por meio do trato com esse tema, observamos a possibilidade de reconhecer e discutir as feições tomadas pelo governo que controlou o Brasil entre os anos de 1964 e 1985. No entanto, também sabemos que são poucos os recursos didáticos que nos permitem realizar esse tipo de trabalho.

Visando superar essa dificuldade, oferecemos o trabalho com um documento através do qual é possível estabelecer os impactos políticos e econômicos do “milagre”. Segue o texto abaixo:

“Para nós, operários, milagre é conseguir sobreviver com os baixos salários que recebemos. Para isso, somos obrigados a trabalhar 12 a 13 horas por dia, e muitos trabalham aos domingos, o que significa, na prática, o fim de uma das maiores conquistas da classe operária: a jornada de 8 horas e o descanso semanal.” (Manifesto da Oposição Metalúrgica de São Paulo, 1975.)

Nesse trecho do “Manifesto da Oposição Metalúrgica de São Paulo” temos um texto reivindicatório que questiona os efeitos positivos do chamado “milagre econômico”. Segundo o documento, o crescimento da economia brasileira, atestado em diversos documentos e pesquisas da época, não implicou em uma distribuição de renda mais ampla. Não por acaso, o manifesto em questão denuncia a extensão das horas de trabalho como efeito de uma política de baixos salários.

De fato, os efeitos do milagre econômico repercutiram na condução de grandes obras públicas e a ampliação do crédito para os setores médios da população. Com isso, os trabalhadores viveram uma situação marcada pelas longas jornadas de trabalho e o recebimento de baixos salários. Ou seja, nosso modelo de desenvolvimento se voltou para o emprego de nossas riquezas em ações que atingiam positivamente o grande empresariado e, em segundo plano, os setores médios da população.

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Tomando o ano de publicação do documento, o professor pode expor aos alunos que o “milagre” já vivia um período de crise, onde a “Crise do Petróleo” impôs um cenário de retração e fim do desenvolvimento. Nesse contexto desfavorável, a situação da classe trabalhadora se agravava com uma crise econômica que afetou diversos setores da população. Mais do que o impacto econômico, o fim do milagre impunha a insatisfação contra um regime que já se mantinha há mais de uma década no poder.

Dessa forma, podemos ver que esse mesmo documento estabelece um momento de enfraquecimento do regime por meio de sua crise econômica. Observando o processo de distensão do regime, observamos que o desenvolvimento da crise econômica foi ponto de suma importância para que a redemocratização fosse possível. Afinal de contas, não seria fácil manter um governo ditatorial que não conseguisse atender a demanda por desenvolvimento, emprego e renda da população.

Com isso, mais que uma simples reivindicação decorrente da crise do milagre, observa-se que o documento trabalhado pode ser avaliado como um primeiro indício da crise política que se instala no interior do próprio regime. Ao destacar essas duas questões, o professor revela ao aluno que a ditadura não esteve ilesa a ações de oposição e que, em certo ponto, esse mesmo governo precisava de aprovação para sustentar sua posição frente à nação.

Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola