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Ao longo de sua experiência escolar, sabemos que muitos alunos internalizam conceitos sobre o nosso passado que instituem uma perspectiva errônea em relação às experiências que marcam a nossa cultura. Sob tal aspecto, acreditamos que seja de grande proveito que o professor aproveite das datas comemorativas para que essas noções sejam desconstruídas criticamente. Afinal, esse é o grande poder transformador que o aprendizado da História tem a oferecer.
Aproveitando o dia 19 de abril, data em que se comemora o “Dia do Índio”, acreditamos que seja momento oportuno para que a visão romântica e superficial sobre o significado histórico dos índios seja desconstruída. Para tanto, indicamos a preparação de um trabalho com o poema “Canção do Tamoio”, obra realizada pelo escritor maranhense Antônio Gonçalves Dias. Segue abaixo o trecho do poema a ser oferecido aos integrantes da turma:
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.
Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranquilo nos gestos,
Impávido, audaz.
Realizando a leitura coletivamente, abra espaço para que os alunos exponham a sua opinião sobre o índio tamoio que é representado no texto. Na medida em que as interpretações aparecerem, destaque aquelas que indicarem a representação heroica do índio, como um indivíduo resistente às adversidades e pronto para a luta. Nesse aspecto, a força aparece como um alento capaz de não apenas elogiar o índio, mas também de se sobrepor aos conflitos e problemas que sobrevieram a esse elemento formador de nossa população.
Feita tal consideração, peça para que os alunos pesquisem sobre a situação dos índios ao longo da colonização, destacando a questão relacionada à escravização dos mesmos. Caso ache mais interessante, esse mesmo trabalho pode prosseguir com a busca por matérias de jornal e revista que falem da situação de conflito vivida por algumas comunidades indígenas, que vivem a mercê de grandes proprietários de terra, arrozeiros, mineradores e outros personagens que cobiçam suas terras.
Propondo esse tipo de trabalho e expondo algumas das informações recolhidas, o professor pode retornar ao poema do século XIX para, desse modo, realizar uma nova reconsideração sobre a obra. Afinal, será que a força dos índios foi capaz de protegê-lo da ação dos colonizadores ou das figuras do mundo contemporâneo? Por meio dessa questão temos a possibilidade de repensar uma gama considerável dos discursos costumeiramente reservados ao indígena brasileiro.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola