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Quando debatemos em sala as primeiras décadas da República Velha, notamos a instalação de uma estranha democracia deturpada por uma série de vícios e corrupções. Apesar do estabelecimento do voto universal masculino, a mesma elite proprietária de terras se assegurava no poder por meio de artifícios de natureza diversa. Com isso, ao invés de articular um cenário político heterogêneo, o regime republicano acabou reforçando o conservadorismo e a exclusão política.
Para salientar essa questão, o professor acaba debatendo em sala de aula sobre os mecanismos que justificam tal situação. As fraudes eleitorais representadas pelo “voto de cabresto” e a “política do café-com-leite” são elementos fundamentais para que os alunos entendam melhor esse conteúdo. Sem dúvida, a inserção desses temas pode abrir portas para que eles, por exemplo, discutam sobre a questão da corrupção política no país.
Contudo, para que o “café-com-leite” e o “cabresto” sejam mais bem explicitados, recomendamos que o professor trabalhe com duas interessantíssimas charges do desenhista Alfredo Stroni. A primeira, de 1905, tematiza a hegemonia dos políticos paulistas e mineiros sob o comando do governo central. A segunda, de 1927, ironiza a situação subalterna da população em relação às fraudes que sustentavam os mesmos grupos políticos no poder.
Charge 01
Charge 02
Nessa primeira imagem, a exclusão política fica esclarecida pelo papel simbólico desempenhado pelo monte que ocupa espaço central na figura. Em seu topo, a cadeira presidencial fica sob a vigilância dos representantes fundamentais do “café-com-leite”, os fazendeiros paulista e mineiro. Enquanto isso, os demais estados da federação tentam, com visível insucesso, alcançar o posto político máximo da nação.
Na segunda charge, temos uma crítica de natureza ainda mais contundente, em que observamos a presença de três personagens: a Soberania, o Político e o Eleitor. Este último é representado como um animal, pois tem a sua opinião política subordinada aos interesses do Político. Dessa forma, o desenhista nos leva a refletir sobre o tipo de soberania que se desenhava naquela época.
Valendo-se das informações disponíveis nas charges de Stroni, o professor abre portas para um novo meio de se internalizar dois conceitos políticos que marcaram época. Ao mesmo tempo, permite a apresentação de um artista que refletiu sobre o tempo que viveu através de uma rica gama de imagens que marcaram época. Se for possível, o professor pode solicitar aos alunos uma breve pesquisa sobre a vida desse brilhante cartunista do século XX.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola