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Analisando as relações de susserania e vassalagem

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Representação do acordo feito entre nobres na cerimônia de homenagem.

Em História, bem sabemos que a compreensão do passado se torna uma tarefa cada vez mais difícil na medida em que nos distanciamos dos vestígios deixados pelo tempo. Dessa forma, acreditamos que o repasse dos conteúdos de História deva contar com algumas aulas inteiramente dedicadas à análise de documentos. Mais que uma simples leitura, esse exercício de interpretação pode abrir caminho para uma relação mais próxima e clara com tal área de conhecimento.

Ao abordar as relações sociais do período medieval, o aluno pode muitas vezes não ter a percepção nítida do significado que as relações pessoais tinham nessa época. Vivendo em um mundo onde os contratos e as leis escritas regem grande parte dos acordos sociais, ele pode muitas vezes não compreender como um juramento verbal bastava para selar um acordo. Em outras situações, pode até mesmo compreender que esse costume seria uma formalidade secundária aos interesses econômicos dos envolvidos.

Reportando-se aqui às relações de susserania e vassalagem, podemos através de um documento da época dar uma dimensão mais clara desse costume medieval. Para tanto, recomendamos a leitura de uma passagem da obra “900 textos e documentos de História” onde temos uma rica descrição do ritual de homenagem feita pelo clérigo flamengo Galbert de Bruges, no século XII. Assim se desenha o ritual por ele testemunhado:

“Em primeiro lugar, fizeram homenagem desta maneira: o conde perguntou ao futuro vassalo se queria tornar-se seu homem sem reservas, e este respondeu: ‘Eu o quero’; estando então suas mãos apertadas nas mãos do conde, eles se uniram por um beijo. Em segundo lugar, aquele que havia feito homenagem hipotecou sua fé (...); em terceiro lugar, ele jurou isto sobre as relíquias dos santos. Em seguida, com o bastão que tinha à mão, o conde lhes deu a investidura (...).”

No documento, o professor tem condições de mostrar claramente diferentes aspectos que envolviam o compromisso entre os membros da nobreza. Em uma cerimônia pública, costumeiramente acompanhada por uma autoridade religiosa, o vassalo era simbolicamente transformado em propriedade de seu suserano. Além disso, selavam esse mesmo compromisso com as mãos dadas e a execução de um beijo que reafirmava o acordo.

Sem dúvida, esse último ritual causa bastante estranheza aos alunos, tendo em vista que esse tipo de contato íntimo era naturalmente liberado nesse tipo de ocasião solene. Além disso, não bastando a resolução feita entre os terrenos, o juramento deveria também ser feito com relíquias sagradas que atestavam a presença divina naquele momento. Dessa forma, a cerimônia de homenagem se realizava a volta de signos religiosos que tinham profundo significado aos que participavam do evento.

Mesmo se tratando de uma documentação simples e sem maiores possibilidades interpretativas, vemos que o relato permite um olhar mais cuidadoso para com o mundo feudal. Provavelmente, os alunos podem sair dessa aula com outra impressão sobre a dimensão que as relações pessoais tinham nessa época. Ao mesmo tempo, é possível reforçar a questão do predomínio que a esfera religiosa tinha em variados aspectos do cotidiano medieval.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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