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Analisando os discursos de Vargas

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A contradição é uma das mais significativas marcas do populismo nacionalista de Getúlio Vargas.
A contradição é uma das mais significativas marcas do populismo nacionalista de Getúlio Vargas.

Observando a figura de Getúlio Vargas, podemos singularizá-lo na condição de uma figura política carismática e contraditória. No seu longo tempo como presidente da República, assumiu diferenciadas posturas que condiziam com a própria construção de uma figura política independente dos ditames de uma filosofia partidária ou de claras convicções políticas. Não por acaso, sua trajetória ainda fomenta uma ardente discussão entre historiadores e outros especialistas no assunto.

Em sala de aula, o professor pode muito bem expor esse traço ambíguo de Getúlio Vargas promovendo um rico trabalho com dois discursos feitos por ele mesmo. Sem dúvida, a observação dos alunos ao discurso varguista pode operar de forma significativa no reconhecimento e debate das questões daquele tempo. Visando facilitar a percepção das mudanças assumidas por Vargas, sugerimos o trabalho com discursos realizados nos anos de 1937 e 1950.

Antes de adentrar no conteúdo do texto, explore junto aos alunos a situação política vivida no país. O ano de 1937 foi marcado pela realização que dava origem ao Estado Novo, período em que Vargas comandava o país na condição de ditador. Já em 1950, houve a realização de eleições democráticas. Em tal pleito, Vargas concorreu ao posto presidencial através da ampla participação popular.

Dada essa primeira ambientação, realize a leitura do texto com os integrantes da turma. Seguem os textos:

Em 1937, Vargas dizia que:

“(...) não se oferecia outra alternativa além da que foi tomada, instaurando-se um regime forte, de paz, de justiça e de trabalho. Quando os meios de governo não correspondem mais às condições de existência de um povo, não há outra solução senão mudá-los, estabelecendo outros moldes de ação.”
(Reproduzido de FENELON, Dea (org.). 50 textos de História do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1974, p. 159.)

Em 1950, por outro lado, Vargas, ainda candidato à presidência, proclamava que:

“(...) a criação de novos hábitos políticos, reclamada insistentemente pela opinião pública, dar-se-á pela presença efetiva do povo no trato e na solução dos problemas nacionais. (...) Somos uma Nação de economia ainda onerada por condições semicoloniais, em que a riqueza de possibilidades naturais contrasta com a pobreza do homem.”
(Citado por D’ARAÚJO, Maria Celina Soares. O Segundo Governo Vargas, 1951–1954. 2a ed., São Paulo: Ática, 1992, p. 84.)


No primeiro texto, questione os alunos sobre qual foi a “alternativa tomada” por Vargas naquele instante. Destacando a consolidação do Estado Novo, questione quais foram as justificativas oferecidas pelo presidente para que as liberdades democráticas fossem repentinamente interrompidas. Encerrada tal análise, busque questionar sobre os “outros moldes de ação” que marcam o Estado Novo, salientando o controle dos sindicatos, o fim dos partidos, a censura, a perseguição policial e a exploração da propaganda oficial.

Sob esse aspecto, o professor pode mostrar aos alunos que a transformação do cenário político não se desenvolveria por meio de um debate político. A transformação se fazia necessária pela ação particular do estadista que discursava naquele momento. A ausência de palavras de ordem que abrissem caminho para a inserção do interesse popular tem um peso muito significativo. Afinal, um texto também revela suas vozes pelos silêncios que ele fabrica.

Tomadas essas considerações, vemos que a entonação de Vargas se formula de maneira completamente diferente quando diz que os hábitos políticos daquele novo período seguiam os anseios da “opinião pública”. De tal modo, a posição anteriormente favorável a um governo que decide pelo povo, se transforma radicalmente no elogio de um novo cenário político moldado pelo povo. Impossível não delinear a profunda diferença entre os Vargas de 1937 e 1950.

Além de poder assim revelar um dos mais instigantes traços da política populista, o professor pode reforçar a importância que esse exercício interpretativo fomenta na atualidade. Retomando a responsabilidade social e política inerente ao exercício democrático, podemos ver que a observação da carreira política e dos discursos de um candidato podem ter peso fundamental para a escolha do mesmo.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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