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A utilização da militarização em vários aspectos da vida é um componente essencial à manutenção da ordem capitalista e também um tema corrente no cinema. Geralmente, nas produções cinematográficas hollywoodianas, a militarização da vida social é exposta como algo positivo, sendo que grandes heróis do cinema estadunidense são militares.
Mas há outros cineastas que buscam lançar um olhar crítico sobre a militarização. Um deles é Stanley Kubrick (1928-1999), cineasta estadunidense responsável por uma vasta produção cinematográfica, que inclui clássicos do cinema como Laranja Mecânica (1971) e 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968). O objetivo aqui é apresentar a possibilidade de trabalhar a militarização durante a segunda metade do século XX a partir de dois filmes do cineasta: Nascido para Matar (1987) e Dr. Fantástico ou: como aprendi a não me preocupar e a amar a bomba (1964).
O primeiro filme – do qual se destaca para os interesses aqui apontados a sua primeira parte – retrata com fidelidade a cruel e violenta formação dos fuzileiros navais estadunidenses para a Guerra do Vietnã. Iniciando com a chegada dos recrutas a um quartel militar, o filme tem como narrador o recruta Joker, assim chamado pelo seu humor sarcástico, que passa a relatar o duro treinamento imposto pelo sargento Hartman, permeado de ofensas e exigências físicas extremas.
Porém, o principal objetivo é mostrar a evolução de outro personagem, o recruta Pyle, um jovem obeso e desajeitado que sofre todo o tipo de injúrias por parte do sargento. Sua incapacidade de realizar as atividades do treinamento leva o sargento Hartman a praticar um intenso bullying e a aplicar penas a todos da tropa, e não apenas a Pyle. O resultado é um ataque noturno ao jovem por seus companheiros como desagravo às penalidades sofridas. A partir desse momento, Pyle se torna uma máquina de guerra, feito conseguido através de sua desumanização e o desenvolvimento de uma ação paranoica de alcançar os objetivos impostos pelo sargento Hartman. Essa parte do filme termina com um resultado surpreendente do efeito da militarização sobre o indivíduo, com Pyle eliminando o sargento Hartman e se suicidando em seguida.
O segundo filme, Dr. Fantástico, é uma sátira à Guerra Fria, mostrando uma escalada no acirramento do conflito entre EUA e URSS. Tendo como ator principal Peter Sellers, que representa três personagens no filme (Dr. Fantástico, o presidente dos EUA e um oficial da Força Aérea Britânica), o filme mostra as ações diplomáticas e militares entre os dois países para conter uma inevitável guerra nuclear. O Dr. Fantástico é um cientista alemão nazista que se radica nos EUA e se torna assessor da presidência estadunidense. Com um braço biônico incontrolável, que ora faz a reverência nazista e ora tenta estrangular o próprio cientista, Dr. Fantástico confirma a existência da “Máquina do Juízo Final”, arma de lançamento nuclear automático, desenvolvida pela URSS como resposta a um possível ataque nuclear dos EUA. O que realmente causa pânico aos personagens é que o ataque estadunidense foi ordenado após um sargento do exército dos EUA perceber que os americanos estavam sendo envenenados pelos soviéticos, através do flúor colocado no sistema de abastecimento de água.
A partir daí o filme mostra o desenrolar das tentativas de se evitar o ataque, com várias falas destinadas a mostrar as insanidades militares e também os horrores da Guerra Fria. Além de mostrar, na fala do Dr. Fantástico, sobre as saídas em caso de realização do ataque e a defesa da continuidade da espécie baseada numa argumentação tirada das concepções de eugenia do nazismo.
Com esses filmes é possível mostrar a militarização através de duas abordagens, uma realista e outra humorística da militarização. A partir da apresentação do filme e dos debates conduzidos pelo professor, é possível estimular a reflexão dos alunos sobre os problemas da militarização, pedindo ainda que seja produzido um curto texto como forma de avaliação do conteúdo apresentado.
Por Tales Pinto
Graduado em História