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Django Livre e a escravidão nos EUA

Com a tentativa de criar uma revanche histórica, o filme Django Livre proporciona ao professor uma interessante abordagem sobre os anos finais da escravidão nos EUA.
Em Django Livre, Tarantino apresenta uma visão de revanche à escravidão no sul dos EUA
Em Django Livre, Tarantino apresenta uma visão de revanche à escravidão no sul dos EUA
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Sucesso de bilheterias quando lançado em 2013, o filme Django Livre, de Quentin Tarantino, proporciona ao professor de história uma abordagem alternativa no trabalho sobre a escravidão nos EUA durante o século XIX. O filme busca apresentar a crueldade da escravidão naquele país, ao mesmo tempo em que se insere em uma proposta de criar uma “revanche histórica”, na qual os vencidos se veriam, ao menos por um momento, como vencedores neste conflito entre os escravocratas de origem europeia e os povos africanos escravizados.

Ambientado no período imediatamente anterior à eclosão da Guerra de Secessão (1861-1865), o filme faz uma leitura do processo de escravidão no sul dos EUA, centrando principalmente na crueldade infligida aos escravos. Tarantino utilizou para isso de um estilo cinematográfico baseado nos faroestes italianos, do qual é derivado o personagem principal da história, o escravo Django, vivido por Jamie Fox. Como no filme homônimo de Sergio Corbucci, o Django de Tarantino é um vingador, que por deter possíveis informações sobre irmãos procurados pela justiça, é comprado e posteriormente alforriado por um caçador de recompensas, vivido por Christoph Waltz, que não sabe identificar o grupo de irmãos que ele está à procura.

A partir desta compra, a história do filme se desenrola, mostrando várias facetas da sociedade sulista escravocrata dos EUA. O choque das populações das pequenas vilas e cidades ao ver um negro montado em um cavalo é significativo da situação de inferioridade social a que estavam submetidos os africanos escravizados. A segregação espacial também é bem representada, sendo apresentada no filme através da transgressão de todas estas convenções sociais. No que se refere à diferença entre os tipos de escravos existentes, destinados a distintas tarefas, é exposta nas falas entre os dois principais personagens, nas fazendas que eles vão entrando durante a trajetória do filme, bem como no próprio rosto de Django, marcado com escravo fugitivo, destinado apenas às tarefas mais extenuantes e considerado uma mercadoria desvalorizada.

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A apresentação das teorias raciais desenvolvidas no século XIX pelas quais eram baseadas as definições da superioridade biológica das populações que viviam na Europa também é tratada em Django, principalmente quando o mercador de escravos, Calvin Candie, vivido por Leonardo Di Caprio, expõe a teoria utilizando um crânio em uma mesa de jantar, apontando as supostas diferenças cerebrais entre brancos e negros, ligando estes últimos à submissão, naturalizando, dessa forma, a escravidão.

Por outro lado, o surgimento da Klu Klux Klan (KKK) é tratado de forma cômica, utilizando Tarantino um debate sem sentido sobre os motivos da utilização do conhecido capuz dos membros da KKK.  Esta ridicularização da KKK é inspirada no grupo de comédia britânico Monty Python e, como em vários momentos do filme, serve como um recurso utilizado por Tarantino para realizar sua interpretação do processo histórico, no caso tratando a violenta e racista KKK com este tipo de humor.

Ainda neste quesito da interpretação, é interessante notar que Tarantino tenta reescrever o processo histórico, dando um novo papel aos vencidos, como uma espécie de desforra contra os séculos de escravidão, humilhação e violência a que foram submetidos os africanos durante a escravidão moderna. A explosão da Casa Grande, cujo simbolismo remete à derrota dos escravocratas e da própria instituição da escravidão é o ápice desta proposta de reinterpretação histórica realizada por Quentin Tarantino.

Após a apresentação do filme, um debate pode ser realizado junto aos alunos com o objetivo de apresentar estas facetas da escravidão nos EUA, resultando na proposição de um texto, no qual os alunos apontarão os elementos de veracidade histórica e também os elementos ficcionais, tais como a própria interpretação do diretor.


Por Tales Pinto
Graduado em História