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Quando trabalhamos com o passado, a contemplação de suas fontes pode ser uma experiência fundamental para que possamos criar um elo com o que é estudado. Essa necessidade, ao contrário do que muitos possam imaginar, não fica restrita aos círculos acadêmicos ou aos pesquisadores. O olhar sobre os vestígios passados deve estar presente em todos os níveis de conhecimento, sendo assim também integrados ao cotidiano dos ensinos fundamental e médio.
Em um primeiro momento, muitos professores podem ter enorme receio de realizar esse tipo de exposição em sala de aula. A questão da linguagem, sem dúvida, é um grande obstáculo que acaba dificultando o trabalho com alguns tipos de fontes escritas, por exemplo. Contudo, na posição de intermediador, o professor de História pode transformar essa observação do documento como um “desconhecido” que paulatinamente se torna “íntimo” de seus alunos.
Retomando o tema desta aula, acreditamos que a inserção de documentos relacionados ao regime militar brasileiro pode chamar a atenção de muitos alunos. De fato, em uma breve consulta, o professor pode constatar que alguns alunos sabem de algum relato ligado a esse período. Se possível, permita que alguns alunos emitam opinião sobre esse período de nossa história política.
Após esse momento de participação, reporte à classe uma breve introdução do contexto histórico em que os documentos a serem trabalhados se inserem. Em suma, destaque que ambos os escritos são do ano de 1968, momento em que várias agitações políticas contrárias ao regime imposto pelos militares ganhavam as ruas do país. Não por acaso, é nesse mesmo ano que, em 13 de dezembro de 1968, o AI-5 surgiu como uma medida de forte caráter repressor.
Partindo desse pressuposto, recomendamos que o professor exponha o primeiro documento, onde Negrão de Lima, então governador do Rio de Janeiro, solicita a participação das Forças Armadas para conter as manifestações estudantis que se avolumavam naquela época. Redigido em 25 de junho de 1968, o documento mostra que as oposições já se articulavam em demonstrações de claro repúdio contra o golpe de Estado firmado pelos militares.
Logo em seguida, já trabalhando com os efeitos consolidados pelo AI-5, realize a exposição da carta redigida pelo arcebispo D. Eugênio de Araújo Sales ao general Antônio Carlos Muricy, em 25 de dezembro de 1968. Nesse outro documento, vemos que o clérigo expressa vários anseios referentes aos rumos que a política do país tomaria. Em meio a tantas indagações, podemos ver que a instalação do AI-5 provocou um notório sentimento de incerteza.
Tais explanações, caso ache de melhor valia, podem ser realizadas depois de abrir espaço para as tentativas de interpretação dos alunos. Dessa maneira, o processo de entendimento da informação contida nas cartas se transforma em uma tarefa construída por meio da cooperação de todos. Após o trabalho, pergunte aos alunos sobre quais as impressões deixadas pela exposição documental proposta.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola