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Ao tratar do Renascimento em sala de aula, muitos professores devem ter o devido cuidado para não transformar essa experiência histórica em uma simples contraposição ao mundo medieval. Traçando uma análise mais cuidadosa sobre a cultura medieval, o historiador tem condições de mostrar aos alunos que esse movimento não “nasce” de uma hora para outra, em pleno século XIV.
Na verdade, são transformações de longa duração que viabilizam a efervescência de conhecimento que permite a consolidação dos vários nomes que representaram esse período na história intelectual europeia. Já no século XII, podemos apontar a desestruturação da sociedade feudal como um importante dado explicativo para a gestação dos valores humanistas e racionais. Gradativamente, os homens passariam a pensar o mundo em sua volta de uma forma diferente.
Dessa forma, o aluno deve ter oportunidade de traçar as “permanências” e “transformações” ligadas a esse conjunto de mudanças. É simplesmente inconcebível que o professor deixe seus alunos concluírem que o Renascimento seja uma ruptura completa com os valores de uma Europa Medieval que, por quase um milênio, elaborou formas de organização social e valores que tiveram grande força. No entanto, como essas nuanças poderiam ser mostradas em sala de aula?
Para desconstruir essa leitura antagonista do passado, sugerimos que o professor trabalhe com o depoimento de um escritor que vivenciou essa época. Erasmo de Roterdã (1466 - 1536), humanista e filósofo holandês, proeminente pensador iluminista, tratou sobre o comportamento das instituições religiosas de seu tempo e refletiu sobre a importância do pensamento racional na vida do homem. No ano de 1519, publicou os seguintes dizeres:
“No presente, o homem se faz através da posse da razão. Se as árvores e bestas selvagens crescem, os homens, creia-me, moldam-se (...). A natureza, ao dar-vos um filho, vos presenteia com uma criatura rude, sem forma, a qual deveis moldar para que se converta em um homem de verdade. Se esse ser moldado se descuidar, continuareis tendo um animal; se, ao contrário, ele se realizar com sabedoria, eu poderia quase dizer que resultaria em um ser semelhante a Deus.”
Nessa interessante passagem, podemos ver como os valores religiosos ainda se mantêm vivos na fala deste exemplo do pensamento renascentista. Ao mesmo tempo em que defende o exercício da razão como meio fundamental para a diferenciação do homem dos outros animais, Erasmo de Roterdã compreende que essa mesma razão seria responsável pela aproximação do homem à figura de Deus.
Caso prefira deixar que o aluno mesmo perceba essa tentativa de conciliação entre fé e razão no iluminismo, o professor pode elaborar um roteiro de questões que explore as bases fundamentais do texto produzido. Após a realização da atividade, a resposta produzida pelos próprios integrantes da turma pode intermediar essa discussão. Por fim, se possível, discuta com os alunos se o pensamento religioso e o científico podem conviver de maneira harmoniosa.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola