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SNI e a circulação de informações na ditadura

A disponibilização dos boletins do SNI possibilita ao professor trabalhar com os alunos a circulação de informações entre os órgãos de repressão da ditadura.
Costa e Silva com Augusto Rademaker. O SNI foi utilizado como importante fonte de informação pelos militares durante a ditadura.*
Costa e Silva com Augusto Rademaker. O SNI foi utilizado como importante fonte de informação pelos militares durante a ditadura.*
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Uma das bases para o funcionamento eficiente do sistema repressivo da ditadura civil-militar era a circulação de informações entre os diversos órgãos que compunham a estrutura de combate aos opositores. Dentre esses órgãos, destacou-se o Serviço Nacional de Informação, o SNI, formado em 1964.

O Arquivo Público do Estado de São Paulo, através do projeto Memória Política e Resistência, tem disponibilizado uma série de documentos sobre a repressão política aos opositores do regime civil-militar, dentre eles, alguns Boletins do SNI encontrados entre a documentação constante do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (DEOPS/SP) recebida do SNI.

Os Boletins do SNI podem funcionar como um estímulo aos alunos para estudar a repressão durante o período da ditadura civil-militar, através da apresentação, pelo professor de História, de uma fonte histórica primária sobre o período.

Os boletins do SNI disponibilizados pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo estão digitalizados e mostram a rotina administrativa de circulação de informações internas do órgão. Com isso, o professor pode mostrar aos alunos que a repressão aos opositores não se dava apenas com as prisões, investigações e torturas. Ela ocorria também com o constante processo informativo de seus membros, colocando-os a par de diversas situações consideradas importantes para a manutenção do regime ditatorial.

Os boletins do SNI eram divididos de acordo com alguns assuntos. O primeiro era o Político, apresentando informações sobre política interna, política administrativa, política externa e atividades subversivas. Neste tópico, tanto as atividades dos opositores ao regime eram citadas como as dos apoiadores, pretendendo, com isso, apresentar uma conjuntura política do momento através do monitoramento de todos os setores políticos.

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Como destaque, há o Boletim do SNI de 06/09/1969, em que informações sobre o sequestro do Embaixador Estadunidense Charles Burke Elbrick foram repassadas, principalmente a aceitação do governo sobre as reivindicações apresentadas pelos sequestradores.

Já o Boletim SNI de 30/09/1969 apresenta várias informações sobre os possíveis sucessores do presidente-ditador Arthur da Costa e Silva, que se encontrava gravemente doente à época.

Havia também o assunto Psico Social, em que questões referentes ao Trabalho, Educação e Cultura, Assistência e Previdência Social e Opinião Pública eram veiculadas. Essa seção mostra, por exemplo, movimentações de ações sindicais e de lutas salariais, ou mesmo a relação próxima dos órgãos de inteligência da ditadura com os meios de comunicação, já que manchetes de jornais são apresentadas e editoriais de alguns jornais são comentados.

Assuntos referentes à Economia constavam também nos Boletins do SNI, informando aos membros do órgão sobre o aumento do custo de vida, inflação, investimentos produtivos etc.

Por fim, eram repassadas informações da área militar, como nomeação de novos oficiais, homenagens e extratos de discursos.

Como os documentos estiveram durante muitos anos escondidos, seria interessante ao professor debater introdutoriamente os novos esforços em trazer à luz esses documentos, possibilitando, assim, a construção de um novo conhecimento sobre esse período sombrio da história brasileira.

* Crédito da Imagem: Arquivo Público do Estado de São Paulo


Por Tales Pinto
Mestre em História