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O índio enquanto tema de aula, sugere uma discussão acalorada com idéias trazidas do ambiente sócio-familiar da criança. O professor fica entre a cruz e a espada, tendo que ouvir uma centena de averiguações preconceituosas que parecem ter sido inseridas na criança ao nascer. Do comentário de seus convivas, o aluno reproduz pré-conceitos que denunciam desde a preguiça, até a falta de higiene dos povos indígenas.
Nesse momento, o problema com idéias tão arraigadas parece impedir que o professor consiga oferecer uma perspectiva diferente aos seus alunos. Uma interessante ferramenta de trabalho na questão da diferença cultural poder ser conseguida a partir do trabalho com o texto Trabalhando com o texto: “Ritos Corporais entre os Nacirema”, do antropólogo norte-americano Horace Miner.
O texto do referido autor é um clássico entre as matérias introdutórias de cultura das cadeiras de diversos cursos superiores de humanas. No entanto, com alguns cortes e pequenas adaptações no conteúdo, o texto acadêmico pode ser apresentado aos alunos de ensino médio e fundamental. Depois de sugerir uma leitura em grupo e/ou individual, o professor pode pedir alguns comentários ou uma pequena produção escrita onde o aluno emitirá sua opinião sobre os costumes da civilização Nacirema.
Depois de recolher algumas das opiniões dos alunos, o professor pode montar um quadro de imagens contendo a representação dos costumes do povo nacirema. Ao apresentar as figuras, os alunos se depararão, na verdade, com uma série de costumes que são comuns do cotidiano dos próprios alunos. A grande atração do texto é sua habilidade em descrever de forma grotesca os hábitos mais comuns da cultura ocidental como escovar os dentes, tomar banho, tomar medicamento ou realizar dieta.
A descoberta pode ser seguida pela revelação de um último segredo contido no texto: o termo nacirema, na verdade, é a ordem inversa da palavra “american”, que reforça o jogo realizado com os valores da nossa própria cultura. Ao lançar esse tipo de atividade em sala, podemos discutir se realmente estamos em uma posição privilegiada para desmerecermos os “estranhos hábitos” dos povos indígenas.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola