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A partir de 2016 a Finlândia, no norte da Europa, vai implementar um novo currículo escolar com foco na interdisciplinaridade e participação dos alunos no processo de ensino. A novidade, anunciada essa semana pelo Ministério da Educação do país, causou repercussão no mundo todo, pois a Finlândia é considerada um exemplo de educação básica eficiente.
As disciplinas básicas, como Matemática, História e Geografia, vão continuar, mas elas também serão trabalhadas de forma interdisciplinar e com a participação ativa dos estudantes. Ao todo, sete áreas de competências serão criadas, em paralelo às disciplinas tradicionais, nas quais os professores de diferentes matérias poderão interagir entre eles. Além disso, os alunos terão que atuar como assistentes dos professores, auxiliando os demais estudantes no ensino.
Na prática, o tema Aquecimento Global, por exemplo, será apresentado não só do ponto de vista da Biologia, mas também da geografia, química e física. Os professores serão preparados para o ensino interdisciplinar e incentivados a desenvolverem seus próprios métodos de ensino. Enquanto isso, alunos poderão avaliar o seu processo de aprendizagem, optando por escolher quais assuntos quer aprender em determinada disciplina ou área de conhecimento.
Brasil
Será que esse método funcionaria no Brasil? Para o professor de Filosofia do Brasil Escola, Wigvan Pereira, é preciso antes compreender como educação na Finlândia se desenhou. “Na década de 60 a formação do professor já era objeto de reflexão. A carreira docente passou a exigir mais dos seus candidatos, que precisam ser aprovados em provas dissertativas, entrevistas e atividades práticas” - relata Wigvan.
O professor de Filosofia, que também fez estágio na Finlândia, descreve que os programas de formação docente do país nórdico são baseados em pesquisa e os conteúdos são abordados a partir da preocupação didática que, também, é estudada em unidades curriculares e colocada em prática em estágio de, no mínimo, um ano. O componente prático também se observa na preocupação com o aluno: o professor deve estar habilitado para entender suas dificuldades de aprendizagem e para contorná-las.
Outro fator que diferencia a Finlândia do Brasil é em relação aos salários recebidos e prestígio social dos professores, consideravelmente maior no país europeu. No entanto, o processo seletivo para docentes de escolas públicas na Finlândia é mais rigoroso que aqui, o que garante uma melhor qualificação, segundo Wigvan. “Da boa qualificação decorre a autonomia que as escolas e os professores possuem. O currículo não tem um caráter regulador e funciona apenas como orientação. A autonomia do professor também se manifesta na avaliação escolar. Ao contrário da grande maioria dos países, não há ênfase na educação como preparatório para testes. Os conteúdos presentes no currículo são relacionados à vida do aluno e abordados de forma ampla, para além da obrigatoriedade de se acertar um número de questões.”
Para concluir, Wigvan destaca que a Finlândia vê o ensino público de uma forma diferente que o Brasil. “Enquanto em várias partes do mundo o ensino é voltado para o mercado de trabalho - e, por isso, a criança é ensinada a obedecer e a se comportar - na Finlândia a preocupação é com um ensino que não está orientado para a assimilação de conteúdos e que promova a capacidade do aluno de se relacionar com o conhecimento de forma que ele mesmo possa se tornar um agente discursivo". Um currículo baseado no desenvolvimento da capacidade de pensar por si mesmo é bastante arriscado para a ordem das coisas, da qual se beneficiam justamente as pessoas que teriam possibilidade de aplicá-lo – finaliza Wigvan.
Adriano Lesme
Equipe Brasil Escola