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Lidando com o bullying na escola

Atitudes agressivas não podem ser ignoradas.
Atitudes agressivas não podem ser ignoradas.
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Bullying é uma expressão bastante utilizada na atualidade, embora seu significado seja bem mais antigo e frequente. Sem um termo equivalente em Português, ele, segundo o texto de mesmo nome, do Brasil Escola: “é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder”.

Sabe aqueles apelidos nada graciosos, tais como “cabelo de vassoura (ou de certas marcas de palha de aço)”, “microfone”, “galinha”, “mudo”, “problemático”, “macaco”, “bichona”, “sapata”, “quatro olhos”, “fedorento”, “cabeçudo”, “CDF”, “nerd”, “palito de dente” e “baleia”? Pois é, tais títulos não são nada agradáveis para aqueles que os recebem, e podem provocar problemas de autoestima sérios. E olha que citamos somente agressão verbal, e com apelidos mais “light” do que muitos os que são ditos por aí. Segundo uma pesquisa realizada no Rio de janeiro, pela extinta Ong Abrapia (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e a Adolescência), 40% dos participantes revelaram que sofreram ou ainda enfrentam o bullying.

Fatos assim revelam o problema de valores que nossa sociedade enfrenta, sempre reforçando padrões únicos de existência, e intolerância às demais formas de vida; e a ideia errônea de que aquele que busca levar vantagens em tudo, e sempre se destacar dos demais, a todo custo, é alguém em quem se espelhar.

Assim, é necessário investigar as causas de agressão na escola, identificar as pessoas e fatos envolvidos e, ao dar o devido castigo ao(s) responsável(eis), fazer também com que ele tenha um caráter reflexivo/corretivo. Exemplo: ao voltar da suspensão, entregar uma redação sobre preconceito. Além disso, é preciso criar espaço para discussão, sempre incentivando o respeito aos colegas e todas as pessoas envolvidas no espaço escolar. Isso é importante até mesmo se considerarmos que, não raras as vezes, o agredido tende a se tornar também agressor, formando um círculo vicioso.

Talvez seja interessante, a cada início de ano letivo (e sempre que entrar um novo professor ou funcionário na escola), fazer uma reunião, juntamente com os pais, apontando as regras da escola, frisando que, naquele espaço e em seus arredores, o objetivo é de desconstrução de valores prejudiciais, não sendo tolerado, portanto, o comportamento preconceituoso, violento ou de hostilidade – e que, caso ocorram, as devidas medidas serão tomadas. É necessário apontar que esses comportamentos podem provocar, além de um clima ruim na instituição, depressão, angústia, baixa autoestima, estresse, isolamento, fobias, evasão escolar, atitudes de autoflagelação e até atos extremos, como agressão, assassinatos e suicídio.

Como denunciar agressões mais sutis nem sempre é fácil, é interessante que a escola crie um espaço para denúncias anônimas. Além disso, sempre que possível, os professores devem abordar esses temas em suas aulas. Por exemplo:

- Refletir sobre os diferentes padrões de beleza adotados na história, como as musas gordinhas do renascimento;

- Solicitar que façam uma pesquisa com pessoas de seu convívio, como pai e mãe, questionando sobre os possíveis apelidos e situações constrangedoras que já passaram (ou criaram), quando estavam na escola; com direito a discussão e produção de texto;

- Nas produções de textos, fazer narrativas em primeira pessoa, na qual o aluno se posicione, ora no papel do agressor; ora no papel do agredido;

- Analisar, em uma aula de História, a situação histórica do negro no passado e na atualidade;

- Discutir, em Biologia, que a homoafetividade tem causas multifatoriais, inclusive biológicas;

- Calcular, tabular e montar gráficos relacionados ao preconceito em nosso país e no mundo;

- De forma inter/multidisciplinar, criar uma lista de ações a serem adotadas para exterminar, ou pelo menos reduzir drasticamente, o bullying na escola.

Além disso, é importante que os pais sejam envolvidos nessas questões, criando medidas específicas e efetivas, em casa e na escola, para solucionar cada caso em especial; ao trocarem informações sobre o comportamento do aluno.

Rotular o estudante como “o nota 10” ou “o garoto problemático” somente reforçará estigmas, fazendo com que ele próprio não se atente para os pontos que tem a melhorar e tenha dificuldades para se ver como um indivíduo de múltiplas facetas; e também corra o risco de ser visto da mesma forma por outras pessoas envolvidas no espaço escolar, sem que tenham a chance de conhecê-lo livre de conceitos pré-formados.

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Por Mariana Araguaia
Bióloga, especialista em Educação Ambiental