PUBLICIDADE
No âmbito escolar, podemos afirmar, conforme alguns pesquisadores, que a sociedade está dentro da escola tanto quanto o inverso.
Dado esse contexto, pela perspectiva da família popular, o sistema de ensino poderia oferecer ao aluno um sentido para a sua presença no mundo, permitindo-lhe adquirir uma visão geral das possibilidades sobre os seus campos de conhecimento e, a partir daí, elucidar suas razões de viver, dando-lhe um sentido particular para a sua vida.
Nesse cenário, as famílias populares esperam da escola conhecimentos imediatos, para que os alunos aprendam a transformar os seus modos de socialização em formas adequadas de vida familiar e escolar. Dessa forma, as crianças de origem popular não precisariam apenas aprender os conteúdos da cultura escolar, o que por si só já implica um alto grau de concentração e de desempenho, mas também modos de ser e de agir em sociedade.
Para algumas famílias, até o presente momento, existe o sentimento de que a escola é algo extremamente importante, apesar de ainda desconhecido, e manifestam a esperança e o desejo narcísico de verem os filhos “se saírem melhores que eles”.
As lógicas socializadoras das famílias (especialmente as das camadas populares) e das escolas são divergentes e muitas vezes contrastantes. Nessa relação desigual entre família e escola, há um polo dominante de socialização que é o da escola e, portanto, dos professores.
É certo que quanto mais a escola consiga apreender os modos singulares de socialização nas famílias, mais ela poderá propor formas de agrupamentos, de propostas e de práticas para a inclusão das crianças e criar processos educacionais que articulem as fronteiras das culturas familiares e das culturas escolares.
No entanto, na sociedade contemporânea, singular não rima mais com excepcional, mas com o geral, o normal ou habitual (não é apenas uma questão de singularidade subjetiva).
Em termos sociais, cada indivíduo pode se aproximar de centenas, e mesmo de milhares, de outros em certos pontos e distinguir-se deles em outros pontos. No final das contas, cada indivíduo torna-se um produto de uma infinidade de experiências socializadoras e um ser relativamente singular no espaço social.
No âmbito escolar, encontramos os professores representando os papéis de mediadores e intérpretes ativos das culturas, dos valores e dos saberes em transformação.
Outrossim, o bom senso nos levaria a pensar que se a sociedade muda e se transforma, a escola só poderia evoluir com ela, antecipar, e até mesmo inspirar as transformações culturais e sociais. No entanto, é possível notar que a evolução da sociedade, de certa forma, faz com que a escola se adapte a uma vida moderna, mas de maneira defensiva, tardia e sem garantir a elevação do nível da qualidade do ensino e as expectativas das famílias populares.
Com isso, podemos concluir que quanto menos massificada for a cultura escolar – seja dos professores ou aquela dos conhecimentos que eles transmitem –, certamente maior será a capacidade da escola em criar espaços para a interlocução entre culturas infantis, familiares, de bairro, e também a competência para contribuir na produção de novas culturas.
Eliane da Costa Bruini