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Fundamentos para a pedagogia diferenciada

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“Se o objetivo é dar a todos a chances de aprender, quaisquer que sejam suas origens sociais e seus recursos culturais, então, uma pedagogia diferenciada é uma pedagogia racional. Diferenciar é, pois, lutar para que as desigualdades diante da escola atenuem-se e, simultaneamente, para que o nível de ensino se eleve”. Perrenoud

A teoria crítica do currículo, hoje é mais situada nas relações que são geradas entre o currículo e ideologia, currículo e estrutura social, currículo e cultura, currículo e poder. A igualdade de tratamento na aula produz desigualdades nas aprendizagens, pois a própria organização escolar produz o insucesso dos alunos e provoca a separação entre escola e sociedade. Então a utilização da pedagogia diferenciada constitui uma provocação de transformação profunda, ao propor enfrentamentos que respondam às diferentes expectativas e necessidades dos alunos para que adquiram competência de intervenção na sociedade.

O que se entende em termos de pedagogia diferenciada é que o currículo não pode permanecer insensível ao diferente capital cultural de procedência familiar e social que os alunos carregam no seu dia-a-dia para a escola. Existe uma relação entre sucesso escolar e situações sociais privilegiadas, assim como, entre fracasso escolar e situações sociais desfavorecidas, e a escola por sua vez, reproduzindo a sociedade, acaba confirmando e reforçando a cultura das classes privilegiadas. É certo que a incidência de culturas distintas traz consigo muitas vezes conflitos, discriminação, dominação e exclusão.

O currículo não deve descuidar da especificidade das diferenças, pluralidades, múltiplos olhares da aprendizagem e a chamada cultura popular. É por isso que penso, como Philippe Perrenoud, que os professores, devem ter competência para entender que os alunos são, tal como nós próprios, seres sociais com uma bagagem peculiar de crenças, significados, valores, atitudes e comportamentos adquiridos em ambientes extra escolar, que devem ser considerados.

Ao núcleo comum que forma o currículo formal e oficial, é necessário adicionar um novo cenário curricular onde se contemple a conversa entre as diversas culturas presentes, pois não existe uma única cultura universalmente aceita e, por isso, correta de ser transmitida.

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O professor é o elo articulador entre a sociedade e a escola, fazendo da instituição escolar um local de pluralismo cultural, de referências e identidades legitimadas, de caminhos e procedimentos de aprendizagem dos alunos. O docente terá como missão consolidar a ascensão educacional de cada discente, sem, no entanto desvalorizar a visão da sociedade, onde esses alunos estão inseridos. Ao respeitar e legitimar as identidades e especificidades regionais, locais e individuais (incluindo as necessidades educativas especiais) concretizará a consonância social que todos buscam. Acredito seja essa a proposta de Philippe Perrenoud, quando fala em pedagogia na escola das diferenças.

Quando nos reportamos a Perrenoud, lembramos dos três fundamentos para a pedagogia diferenciada. O primeiro fundamento tem por embasamento uma política educativa de criação igualitária: “a diferenciação está ligada ao cuidado de fazer trabalhar em conjunto alunos de níveis diferentes, no seio de grupos heterogêneos”. O segundo é que a informação da diversidade de caráter cognitivo permite a noção de entradas para a diversificação didática. O terceiro, mais determinante, é de fundo ético, e assenta-se sobre o postulado da educabilidade, “numa atitude sistemática, procurar incansavelmente encontrar um caminho possível para a aprendizagem, mesmo depois de tudo ter falhado”.

Considerando o que está enunciado, em minha opinião, aumentar o tempo de estudo não é a solução, pois o tempo não é a fundamental saída, deve-se sim, aprender num ritmo relativamente unificado, porém conduzido pelos professores de forma diferenciada. Portanto, o que deve ser diferenciado é investir em cada aluno, na criatividade, de maneira estratégica, e no atendimento personalizado dedicado a cada discente.

Perrenoud, Ph. A Pedagogia na Escola das Diferenças. Fragmentos de uma sociologia do fracasso.

Por Amélia Hamze
Colunista Brasil Escola