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A homofobia no ambiente escolar: uma relevante discussão

A homofobia no ambiente escolar se concebe como uma realidade pontual, tornando-se necessárias medidas urgentes para o combate de tal prática.
Diga não à homofobia na escola, um puro ato de violência
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Angariando casos representativos, cujo intuito é promover o sustentáculo necessário para a discussão posta em xeque, imagine uma situação vivenciada na sala de aula, assim materializada:

À frente se encontrava o professor e com ele sua proposta pedagógica a ser ministrada naquele dia, cujo assunto dizia respeito ao caráter polissêmico das palavras, ou seja, as múltiplas nuances de significado que um determinado vocábulo pode adquirir, levando em conta o contexto em que se encontra inserido. Como exemplo, o professor resolvidíssimo optou por apresentar uma frase que muito se encaixava com a situação que por ora desejava dar ênfase:

“CORTO CABELO E PINTO”.

Ora,desde o sentido denotativo, perpassando por vias subjetivas de análise e dando uma voltinha lá para as “bandas” do sentido pejorativo (inevitável, por sinal), a conclusão a que se chega é que múltiplas mesmo são as interpretações que podem ser extraídas de um contexto linguístico como esse.  Assim, aproveitando desse caloroso minuto pejorativo, eis que várias mãos se levantaram afirmando que o determinado colega (xxxxxx) gostaria de ser avisado de um local como esse do anúncio, pois a intenção era justamente realizar a mudança de sexo. É de crer que comentários como esse, ainda que injustificáveis e inaceitáveis, não foram proferidos por mera concepção, ou seja, a materialidade do ato comunicativo tinha resquícios em uma constatação oriunda da opção sexual declarada pelo aluno. Eis que assim, partindo de um exemplo real como esse, não podemos cruzar os braços e esperar que as atitudes de repulsa em relação ao caso em questão adquiram contornos ainda mais intoleráveis e mais graves, considerando que além de uma atitude homofóbica, revela uma prática de bullying, brutalmente disseminado, hoje, no ambiente escolar.  

Caro(a) educador(a),uma vez situado(a) nesse contexto, levantemos a seguinte discussão: a homofobia no ambiente escolar  se revela como um caso pontual, devendo, portanto, ser tratada com mais zelo e com mais atenção por parte da comunidade escolar como um todo e por parte, também, da própria família, ainda que o despreparo para tal seja evidente e tamanho.  Despreparo porque falar sobre diversidade sexual numa sociedade “impostamente” demarcada pela heteronormatividade é, sem dúvida, um grande desafio, desafio esse que, em virtude muitas vezes do silêncio gerado pelos próprios educadores em não saber lidar com a situação, o que se cultiva são apenas as lacunas deixadas em branco – fazendo com que perspectiva alguma seja implantada em prol de uma mudança rápida e necessária.

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Se por um lado tais lacunas assim se mostram, ou seja, isentando-se de quaisquer medidas, tanto preventivas como corretivas, por outro, elas se mostram completamente preenchidas, completas pelos “frutos” que se colhem dessa terrível prática, materializados pela segregação, pelo déficit de aprendizagem, pela evasão escolar, pela timidez, pelo silêncio da pessoa afetada, pelo culto à discriminação, à estigmatização, à ausência da autoconfiança, ao desinteresse, cujos “rendimentos” dessa investidura apenas culminam no insucesso, nada mais. Dessa forma, esse insucesso, provavelmente mais tarde, refletirá na dificuldade da inserção no mercado de trabalho, na redução de oportunidades, uma vez que a carga subjetiva da vítima também se abala consideravelmente, sem falar na vulnerabilidade que a leva a se tornar mais propensa a assédios de toda ordem, abusos, chantagens, tornando-se invisível ou visivelmente distorcida por todos com quem convive.

Acerca de tais considerações, acreditamos que medidas pedagógicas associadas a técnicas didáticas podem e devem ser o quanto antes implantadas, no sentido de fazer com que a diversidade sexual seja estabelecida e a homofobia combatida. Imbuídos então nesse propósito, eis algumas delas, as quais acreditamos se conceberem como pertinentes:

* Promover o acolhimento dos jovens que, por um motivo ou outro, mostrem-se dotados de um comportamento fora dos padrões ditados pela sociedade;

* Procurar reprimir ou até mesmo tomar medidas mais cautelares acerca de comentários preconceituosos advindos de outros colegas de classe;

* Procurar, sempre que necessário, promover a participação dos pais nas discussões sobre homofobia e sobre a diversidade sexual na escola;

* Propor atividades que promovam a interação daqueles alunos que se mostram mais tímidos;

* Nos debates realizados, procurar manter a discussão mais generalizada, sem adentrar nas individualidades dos educandos;

* Apresentar dados estatisticamente comprovados acerca de pesquisas socioculturais;

* Estabelecer uma concordância entre os alunos sobre a não divulgação de tudo que for discutido, com vistas a evitar comentários maldosos no recinto escolar, bem como fora dele.

Como se vê, tais procedimentos tendem a fortalecer competências por parte da comunidade escolar, além de cursos de capacitação profissional e implantação de políticas públicas para que se tornem efetivas essas medidas, tão importantes quanto necessárias.


Por Vânia Duarte
Graduada em Letras