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Metodologia para trabalhar filmes sobre política

A importância do tema “política” ainda não é percebida por muitos estudantes. Apresentamos uma metodologia para trabalhar filmes sobre política.
O cinema não se cansa de representar temas políticos e isso pode ajudar em nossas aulas de Filosofia
O cinema não se cansa de representar temas políticos e isso pode ajudar em nossas aulas de Filosofia
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Apesar da importância do tema “política”, muitos estudantes resistem ao estudo das principais teorias políticas por acharem que são temas que não estão relacionados às suas vidas. Ou, ainda, por considerarem o tema difícil ou cansativo. Por isso, costumo optar por indicar filmes mais atraentes para a faixa etária, mesmo que incorra em erros históricos e mesmo que sejam amarrados por uma abordagem superficial demais. As aulas podem ajudar a corrigir os erros ou excessos apresentados pelos filmes. Mas, no primeiro momento, é mais interessante chamar a atenção dos estudantes para o tema.

Costumo trazer o enfoque para alguns pontos: a importância do discurso, os conflitos de interesse, a mentira na política e a relação entre política e propaganda. Depois, podemos relacionar a teorias específicas ou a períodos históricos. É importante neste momento atrair a atenção dos estudantes para a proximidade que a política tem com a vida de todos nós, como a nossa concepção de política como algo distante e feito por pessoas corruptas pode ser restrita e, também, enfatizar a possibilidade de mudança que existe quando o povo não se contenta mais com o regime político.

Depois, a fim de aprofundar o debate, costumo escolher filmes com mais conteúdo. Outra estratégia é escolher os filmes de acordo com a série; ou seja, passar filmes mais leves para alunos do primeiro ano e mais densos para alunos do terceiro, por exemplo. Outra possibilidade, mas esta precisa ser discutida com a escola, seria uma pequena mostra de cinema.

Sugestão: Mostra de Cinema

Ao optar por trabalhar os filmes a partir de uma “mostra”, podemos fazer do seguinte modo:

1) dividir a sala em três grandes grupos e sugerir três filmes a cada um deles.

2) os grupos decidirão, entre os três filmes, qual filme escolherão para exibir na mostra;

3) à parte dos três filmes escolhidos, a turma deverá escolher um quarto filme para representá-la.

Ou seja: Cada turma participará da Mostra com quatro filmes, representando assim uma espécie de “mostra paralela” pela qual todos devem ser responsáveis.

Se a escola tiver seis turmas que participarão da Mostra, que pode ter um nome escolhido pelos alunos ou algo mais geral como “Primeira Mostra de Filosofia e Cinema do Colégio...”, serão exibidos 24 filmes.

Se pensarmos em uma Mostra de oito dias, teremos a exibição de 3 filmes por dia. Isso pode ser organizado com um filme sendo exibido no turno de aula e os outros dois exibidos no turno contrário. Ou ainda, podemos ter um filme por turno e exibir um filme também à noite. O ponto positivo de exibir um filme à noite é a possibilidade da participação dos pais, de outras pessoas da comunidade e dos alunos de todos os turnos.

Uma mesa-redonda pode ser promovida ao final da Mostra com um representante de cada turma. Além de discutir os filmes, cada representante precisa fazer uma relação com a teoria estudada em sala de aula.

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Fichas avaliativas podem ser distribuídas na exibição de cada filme – ou, ao menos, no filme que a turma escolheu para representá-la. Será uma espécie de “mostra competitiva” dentro dessa Mostra maior. A turma que escolheu o filme mais bem avaliado pode receber um prêmio simbólico.

Outra sugestão é pedir um quilo de alimento não perecível pelo ingresso que dará acesso a ver um ou mais filmes, a depender do que o professor analisar que é mais viável em relação à capacidade econômica de seus alunos e da família de seus alunos. Ao fim da mostra, os alimentos arrecadados serão destinados a uma ação ou projeto social.

Dessa forma, integramos o conhecimento teórico ao prático e, principalmente, escola e sociedade, tanto pela abertura à participação do evento à comunidade quanto pelo retorno à comunidade dos alimentos arrecadados.

Sugestão de filmes:

Evita. (Evita / Diretor: Alan Parker / EUA / 1996)

Por ser um musical e com uma estrela da música pop como atriz principal, Madonna, o filme pode ser um bom ponto de partida para discutir o populismo, a importância da figura da primeira-dama, além dos contornos do regime de Péron na Argentina. Trabalhado em sala, o professor/a professora pode abordar uma questão que não é relacionada ao filme, mas que pode ser trabalhada a partir dele: a relação entre a música e a política. Exemplos de músicas políticas podem ser usados e comparados com as músicas do filme: elas podem ser consideradas músicas com intencionalidade política?

O homem da Máscara de Ferro (The Man in the Iron Mask / Diretor: Randall Wallace / EUA e Reino Unido / 1998)

Outro filme de considerável apelo popular, pela ação envolvida, pelo romance e pela presença de Leonardo DiCaprio. O filme parte de um mito sobre a existência de um irmão gêmeo do Rei francês Luís XIV. Ao rei, considerado pela história como um pensador político, é atribuída a frase “O estado sou eu”, lema do absolutismo. Esse regime político, as diferenças sociais entre a vida na corte e a vida nas ruas da França, podem ser discutidos. Também podem ser discutidas as teorias de Jean Bodin, jurista francês, que defendia uma ligação entre a monarquia e a vontade de Deus.

Os miseráveis (Les Misérables / Diretor: Tom Hooper / EUA / 2012)

Um musical que, entre seu elenco, conta com atriz Anne Hathaway e com o ator Hugh Jackman, pode ser uma ótima via de entrada para a discussão dos temas como a diferença entre classes sociais, os efeitos da guerra, as motivações para a revolução popular e as consequências para a população de um sistema político que não atende às necessidades da maioria. Como apoio teórico, Karl Marx parece ser a escolha mais interessante.


Por Wigvan Pereira
Graduado em Filosofia