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A transformação didático-pedagógica do esporte

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Durante o decorrer do século XX, o esporte ganhou significado para além do campo do lazer e/ou entretenimento: configurou-se tanto como um negócio altamente lucrativo, quanto como conteúdo principal na disciplina de Educação Física. E é exatamente do esporte enquanto conteúdo da Educação Física escolar que trata este texto.

Nesses termos, Pires e Neves (2005) localizam no esporte o principal conteúdo da disciplina de Educação Física do século XX. Isso ocorre ao ponto de a própria disciplina se confundir com o esporte, desencadeando um processo denominado de esportivização da Educação Física. Por outro lado, muitas críticas têm sido feitas nesses termos. Bracht já apontava, imerso em lógica durkheiminiana, que a criança que pratica esporte respeita as regras do jogo... capitalista. No entanto, longe de propor excluir o esporte como componente curricular da disciplina, prioriza-se, sobretudo, a constituição de um esporte escolar, já diferenciado também por Bracht, como “esporte da escola” em detrimento ao “esporte na escola”. Tal proposta apresenta implicações pedagógicas, conceituais e metodológicas bastante distintas daquelas que foram priorizadas em grande parte do século XX, ou seja: trata-se de modificar o conteúdo e o processo de ensino para resultar em um aluno diferente daqueles anteriormente formados.

Ainda que a ginástica tenha sido um conteúdo privilegiado até meados do século XX, após esse período o esporte coletivo ganhou a grade curricular da Educação Física e outros esportes como o atletismo e a ginástica se tornam meros mecanismos de aquecimento. (BETTI, 1999). Nesse sentido, Betti está bastante correta quando afirma que a esportivização da Educação Física ocorre apenas em função de determinados esportes: não é o esporte que se confunde com a Educação Física, são determinados esportes que se configuram como sinônimo da disciplina. Especificamente esses esportes coletivos: basquetebol, voleibol, handebol e futebol.

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Se, atualmente, não mais se trata de aprumar os corpos, higienizá-los ou transformá-los em simples mecanismos de obtenção de medalhas, então é necessário que novos olhares e novos mecanismos de trabalhar o esporte emerjam. Nesse sentido, a diferenciação cunhada por Bracht é bastante oportuna, haja vista que o esporte da  escola permite o desenvolvimento da formação do cidadão, enquanto que o esporte na  escola incita a competição, a pouca reflexão sobre as regras e a discriminação dos alunos menos habilidosos.

Nesse sentido, o trabalho com o esporte por meio de combinação de regras, de adaptação de espaço, de adaptação de movimentos e de adaptação da quantidade dos participantes surge como mecanismo para o desenvolvimento do trabalho com o esporte enquanto conteúdo curricular.

A esse processo de escolarização do esporte, Elenor Kunz denomina de “transformação didático-pedagógica do esporte”: trata-se, então, do processo de adaptar o esporte para o âmbito escolar atual, de acordo com os preceitos curriculares contemporâneos.


Por Paula Rondinelli
Colaboradora Brasil Escola
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Doutoranda em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo - USP