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Quando estamos debatendo o significado histórico da Primeira Guerra Mundial, muitos professores fazem questão de frisar que o conflito empreendeu uma quebra de paradigmas e valores. Essa ideia de ruptura tem como base a antiga imagem que se tinha do Velho Mundo, lugar de progresso, ciência, modernidade, racionalismo e ordem. Sem dúvida, intelectuais de outras regiões do mundo tinham esta impressão e assim colocavam a Europa como um exemplo a ser seguido.
Com a deflagração do conflito e todas as perdas que ele gerou, essa impressão começou a perder a sua hegemonia. O lugar que outrora ocupava o topo de uma imaginada hierarquia do processo civilizatório passou a ser tomado por outras compreensões. Afinal de contas, se aquele era o “exemplo a ser seguido”, como a violência desta guerra, as destruições e milhares de vidas ceifadas poderiam representar todo este ideal positivo?
A relevância e a força desta questão acabaram tomando os anos que sucedem a guerra e, paulatinamente, ganharam manifestações diversas. Para exemplificar isto para os alunos, poderiam ser escolhidos discursos políticos ou reflexões filosóficas bastante significativas para tal reflexão. Contudo, podemos facilitar a inserção desse mesmo conteúdo utilizando das manifestações artísticas da época que, de maneira bem simples, nos conduz a essa mesma gama de perspectivas.
Como sugestão, aconselhamos o professor a realizar este tipo de discussão com uma imagem ou reprodução de “Roda de bicicleta”, do artista plástico Marcel Duchamp. Realizando a exposição da imagem, um animado debate pode trazer à classe todo o significado daquela instalação no período em que foi criada. Segue abaixo um exemplar da mesma.
Sem dúvida, ao realizar a exposição da obra, o professor não pode descartar a valiosa oportunidade de explorar as impressões dos alunos. De forma rápida, peça e anote algumas das opiniões sobre esta obra no quadro. Feita essa primeira etapa, destaque aquelas que são próximas aos ideais de arte presentes na Europa antes que a Primeira Guerra acontecesse.
Em geral, termos como harmonia, beleza, complexidade, estranheza são aqueles que melhor se aproximam do antigo valor europeu concedido às manifestações artísticas. Com isso, não desprezando os comentários negativos, demonstre aos alunos que é essa estranheza que deve ser absorvida na obra. Afinal, em um mundo marcado pelo trauma das guerras, das mortes e epidemias, qual seria a possibilidade ou o sentido de se privilegiar uma arte somente preocupada com o belo?
Com isso, ao destacar que a roda da instalação não serviria para andar e nem a cadeira para sentar, temos colocado diante dos olhos a provocação realizada por Duchamp. Seguir os padrões que eram costumeiramente atribuídos às coisas parecia não fazer sentido, pois o mundo criado por estes padrões estava em completa crise. Além de determinar um sentido crítico ao presente, a obra também pode sugerir a procura de uma nova forma de ordenar, sentir e compreender a realidade.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola