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Atualmente, a questão do preconceito racial vem se tornando cada vez mais relevante no espaço escolar. Em diversas situações cotidianas, vemos que os alunos reproduzem comportamentos racistas ou incorporam ações de natureza racista que, muitas vezes, são socialmente aceitas por muitos de seus colegas. Ao mesmo tempo, percebemos que muitos professores reproduzem esse tipo de discurso ou não sabem lidar com a questão em sala de aula.
Para facilitar a abordagem do tema, escolhemos aqui uma canção de Arnaldo Antunes que pode abrir caminho para um modo bastante curioso de se abordar essa questão. Na canção “Inclassificáveis”, do disco “O silêncio”, já temos um título bastante sugestivo para abordar a questão do racismo em sala. Afinal de contas, seria possível dividir os brasileiros por raças? Será que o nosso povo pode ser reconhecido em características de natureza homogênea?
Lançando esses questionamentos, indicamos ao professor a escuta da resposta dos alunos para essas duas questões. Feita essa primeira consideração, sugerimos a escuta e a leitura da canção indicada. Abaixo, segue um trecho da letra:
que preto branco índio o quê?
branco índio preto o quê?
índio preto branco o quê?
aqui somos mestiços mulatos
cafuzos pardos mamelucos sararás
crilouros guaranisseis e judárabes
orientupis orientupis
ameriquítalos luso nipo caboclos
orientupis orientupis
iberibárbaros indo ciganagôs
[...]
aqui somos mestiços mulatos
cafuzos pardos tapuias tupinamboclos
americarataís yorubárbaros.
somos o que somos
inclassificáveis.
(ANTUNES, Arnaldo. Inclassificáveis. IN: O silêncio. São Paulo: Warner, 1996.)
Já na primeira estrofe, podemos notar a presença do mesmo questionamento que inicia a aula quando Arnaldo Antunes pergunta (ou, quem sabe, duvida) da divisão racial do nosso povo entre “pretos”, “índios” e “brancos”. Logo em seguida, ele passa a sozinho produzir uma resposta em que notamos a construção de outras definições étnicas também conhecidas por uma parte dos alunos como “pardos”, “mestiços”, “mulatos” e “mamelucos”.
Mais a frente, sugerindo que essas outras classificações, mesmo que híbridas, não podem esgotar as diversas misturas de raças, cores e feições que marcam a nossa população, o autor passa a inventar uma série de classificações inexistentes. Para tanto, faz uso de um recurso da língua portuguesa, o neologismo, que permite ao escritor criar novas palavras.
Na medida em que monta tantas palavras inéditas, acaba revelando que as possibilidades de criação de novas palavras é tão extensa quanto a mistura que marca a formação da nossa população. Desse modo, vemos que o título da canção se conforma com o argumento desenvolvido ao longo da letra.
Caso tenha interesse, o professor pode aproveitar dos neologismos da canção para desenvolver uma atividade bastante interessante, onde os alunos tentarão fabricar desenhos ou montagens que hibridem as características físicas dos povos citados em cada uma dessas novas palavras.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola