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A representação da burguesia

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Burguesia: diferentes visões sobre uma classe que se transforma ao longo de sua história.

Em várias ocasiões, o ensinamento de determinados processos históricos abrange situações diversas em que mudanças e permanências são analisadas sob a luz de documentos e análises. Nesse sentido, o aluno pode por algumas vezes visualizar a “repetição” de certas práticas e concepções em diferentes processos históricos. No entanto, esse tipo de julgamento pode ser alvo de interpretações que desconsideram a especificidade de cada contexto.

Em contrapartida, o risco dessas analogias podem também abrir portas para que tenhamos a chance de perceber as transformações que se operam com o tempo. Nesse sentido, o professor pode oferecer esse tipo de operação reflexiva em sala discutindo as diferenças presentes nos discursos que se dirigiam contra a burguesia em duas épocas distintas. Para tanto, o professor deve discutir sobre a ascensão e o desenvolvimento da classe burguesa entre o fim da Idade Média e a Revolução Industrial.

A escolha dessas diferentes épocas tem como intuito observar como a burguesia foi criticada pelas suas ações em diferentes épocas. Dessa maneira, o professor pode demonstrar como a burguesia nas idades média e contemporânea sofriam ataques à sua conduta e suas atividades. De fato, o uso de fonte nesse exercício comparativo é bastante amplo e, com isso, a gama de recursos pode ser diferente ou bem mais abrangente do que as aqui apresentadas.

Para empreender essa distinção, sugerimos o oferecimento de diferentes textos que abrangem essa mesma temática. Primeiramente, ao falar da crítica aos burgueses medievais, o professor pode citar um trecho da obra “A bolsa e a vida”, do historiador medievalista Jacques Le Goff, onde ele assinala os dizeres de um teólogo do século XIII, que dizia:

“O usurário quer adquirir um lucro sem nenhum trabalho e até dormindo, o que vai contra a palavra de Deus que diz: ‘Comerás teu pão com o suor do teu rosto.’ Assim o usurário não vende a seu devedor nada que lhe pertença, mas apenas o tempo, que pertence a Deus. Disso não deve tirar nenhum proveito.”

Dessa maneira, o aluno pode perceber que no período medieval a crítica feita contra a burguesia partia das concepções religiosas da época. Nesse período, inspirado por uma determinada interpretação do texto bíblico, os clérigos da Igreja representavam a burguesia como uma classe pecaminosa que utilizava o tempo como meio de sua sobrevivência. No entanto, a crítica à burguesia do século XIX se ocupa de outras questões e pressupostos.

Para demonstrar tal diferenciação, o professor deve destacar que nesse segundo período a ser apreciado, temos a presença de outro contexto em que a crítica parte de intelectuais que observaram o cotidiano e os gestos da burguesia em seu tempo. Dessa forma, os artistas nessa época tentam avaliar os comportamentos que marcam e distinguem a burguesia industrial de sua época.

Nesse sentido, o professor pode muito bem utilizar de um trecho da obra “Sobre a modernidade” de Charles Baudelaire, poeta francês que observou da seguinte forma a burguesia de seu tempo:

“O homem rico, ocioso que, mesmo entediado de tudo, não tem outra ocupação senão correr ao encalço da felicidade; o homem criado no luxo e acostumado a ser obedecido desde a juventude; aquele, enfim, cuja única profissão é a elegância sempre exibirá, em todos os tempos, uma fisionomia distinta, completamente à parte” (p.47).

Nessa segunda citação, o professor pode muito bem destacar como esse burguês do século XIX aparece retratado em um contexto em que as teorias socialistas se contrapunham à prosperidade material da burguesia. Contudo, isso não quer dizer que Baudelaire era um socialista, mas podemos ver que o ideário dessa doutrina contrária à burguesia influenciou as idéias dos homens de seu tempo.

A partir dessa comparação, o professor tem plenas condições de demonstrar em sala como os preceitos que influenciaram a crítica a uma determinada classe social ganharam diferentes entonações. Ao mesmo tempo, seria possível também visualizar que a classe burguesa, mesmo aparecendo em momentos tão distantes, não é essencialmente a mesma. Com isso, seria possível debater a formação da burguesia no século XIII e no século XIX.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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