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A Revolução Francesa aos olhos de Eugène Delacroix

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Os limites da Revolução examinados através da obra clássica de Eugène Delacroix.

Quando ensinamos um fato histórico, mesmo que tomando os devidos cuidados, sabemos que a nossa fala é contaminada por limites que nunca poderão abarcar a totalidade daquela experiência. Da mesma forma, quando expomos alguns documentos, temos que demonstrar os seus limites ao trabalharmos o mesmo em contraponto com outras falas que exponham a complexidade que envolve o conhecimento do passado.

Tratando sobre a Revolução Francesa, indicamos o desenvolvimento de um rico trabalho com a obra “A Liberdade guiando o povo”, pitada em 1830 pelo artista Eugène Delacroix. Exibindo a imagem aos alunos, faça um rápido trabalho relacionando os elementos do quadro ao título dado à obra. Afinal de contas, onde podemos identificar a “liberdade” e o “povo” no quadro? Através dessa questão, se inicia um diálogo entre os conteúdos que marcam a Revolução Francesa e a representação oferecida na obra.

Entre outros pontos, destaque o significado da nudez e o manuseio da bandeira francesa pela “Liberdade”. Nesse aspecto, a exposição do corpo oferece um sentido de revelação de uma nova situação e o uso da bandeira representa a nação francesa como lugar onde essas mudanças são experimentadas. Ao mesmo tempo, as armas empunhadas e vestimentas surradas sugerem o povo como elemento propulsor da luta que se desenvolveu necessariamente para a conquista de tal liberdade.

Por meio desses e outros levantamentos, é possível entender que o quadro de Eugène Delacroix realiza um quadro heroico sobre o processo revolucionário. Neste momento, o professor pode expor outra perspectiva sobre o acontecimento ao colocar em destaque a reflexão proposta pelo historiador François Furet no texto “A Revolução no imaginário político francês”. Não tendo como trabalhar todo o texto, sugerimos o seguinte trecho:

“Para medir o abalo provocado pela Revolução Francesa, precisamos partir, duzentos anos depois, de sua ambição central: (...) regenerar o homem por meio de verdadeiro contrato social. Ambição universal, cuja abstração se aproxima à mensagem das revoluções, mas que se diferencia delas por seu conteúdo. (...) A Revolução Francesa (...) quer fundar a sociedade, o homem novo, mas sobre o quê? Ela descobre que é uma história, que não tem nem Moisés, nem Washington, não tem ninguém para fixar seu rumo.”

Através dessa mensagem, vemos que o historiador revela uma perspectiva que extrapola os limites do quadro. A ideia da liberdade como um herói que guia a população francesa não consegue abarcar o interesse de outros grupos sociais que pensavam essa mesma liberdade de forma diferenciada. Não por acaso, ele destaca que não havia heróis (“Moisés”, “Washington”) que pudessem abraçar todas as demandas que giravam em torno do fim do regime monárquico.

Dessa forma, o aluno tem condições de reconhecer que o quadro de Eugène Delacroix, assim como tantos outros, faz um retrato limitado da experiência humana. Mais que evidenciar tais limites, cabe ao professor colocar em evidência a pluralidade de formas de ser ver o passado. Com o passar do tempo, espera-se que os alunos também adquiram essa habilidade de comparação crítica.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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