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O termo utopia tem uma utilização bastante comum quando temos o desejo de pensar em situações, lugares e relações que superam as dificuldades do mundo real. Em sua origem grega, essa expressão significa “não lugar”, reafirmando justamente que os nossos mais elevados sonhos e desejos são esse “não lugar”, uma mera utopia. Contudo, de onde que esse tipo de pensamento passou a ganhar tal definição?
Para explicar isso a uma turma de alunos, é importante ressaltar que a utopia está ligada ao advento da modernidade, principalmente com o desenrolar da experiência renascentista. Com o predomínio da razão como forma de compreensão do mundo, o ideal de progresso começou a ganhar linhas visíveis. Havia então, nesse contexto histórico, uma expectativa sobre o alcance de uma sociedade que conseguisse superar suas próprias imperfeições.
De fato, se percorrermos um recorte temporal mais amplo, poderemos ver que as utopias têm uma forte proximidade com a “República”, obra do consagrado filósofo grego Platão. Assim, a obra “Utopia”, escrita pelo britânico Thomas Morus, não pode ser exposta para os alunos como um escrito radicalmente original. Escrita no século XVI, a obra fez a descrição de uma ilha chamada Utopia através das observações de um viajante chamado Rafael Hitlodeu.
Para expor as benesses dessa ilha, o autor ordenou a sua narrativa através de um contraponto organizado em duas partes. Na primeira, falou sobre a Inglaterra, seu país de origem, onde as injustiças contra os camponeses e a intolerância religiosa eram os problemas que mais o incomodavam. Na segunda, apresentou a ilha de Utopia como um contraditório, um lugar onde a intolerância era punida e as guerras evitadas em favor da maioria da população.
Em sala de aula, cabe ao professor escolher passagens dessa obra que possam superar uma visão inicial bastante comum àqueles que são rapidamente apresentados a essa obra clássica. Afinal, qual seria o interessante debate histórico ou até mesmo filosófico que se poderia promover através de uma história que se concentrou na descrição de um lugar perfeito e que, a cada ponto positivo, distanciava-se da miséria e problemas da realidade?
Um dos recortes históricos de grande significado que podem ser expostos em sala de aula tem a ver com o desenvolvimento dos Estados Nacionais e o estabelecimento das leis. Ao longo de “Utopia”, é possível ver uma discussão sobre como as leis teriam o poder de garantir a justiça e moldar o comportamento da coletividade que se submetesse a elas. Em linhas gerias, Morus questionava em sua história se a força dessa lei era capaz de moldar o indivíduo.
Na reflexão do próprio autor, temos a defesa de que a força da lei não teria o poder de moldar a sociedade. Mais importante que isso, seria uma profunda reflexão sobre um tipo de educação capaz de cultivar os valores e práticas que contribuíssem diretamente para a formação de uma sociedade igual à da ilha Utopia. Estaria ele certo? Cabe aí o professor complementar este trabalho lançando essa discussão junto à classe.
Por Rainer Gonçalves Sousa
Colaborador Brasil Escola
Graduado em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG
Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG