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A visão do Outro

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A compreensão de uma outra cultura pode ser construída de diferentes formas.

O contato entre culturas é um fenômeno social que se desenvolveu em vários momentos da história. A visão que um membro de certa civilização tem sobre aquele que se difere de suas concepções, hábitos e costumes nos apontam a diversidade de compreensão do homem. Na história colonial brasileira, por exemplo, podemos ver como os portugueses enxergavam os indígenas demonstrando, por meio da diferença, como desenhavam seu próprio universo de valores.

No mundo contemporâneo, essa relação entre diferentes povos é rotineiramente tematizada em matérias de jornal que falam sobre casos de xenofobia. A popularização desses eventos pode levar muitos alunos a acreditarem que o processo de compreensão do “Outro” está sempre orientado pela questão do conflito e da diferença. Contudo, preservando seu papel de interlocutor do saber, o professor pode trabalhar com exemplos históricos que mostram tal questão de outra maneira.

Para tanto, sugerimos o trabalho com dois relatos ambientados em épocas históricas distintas entre si. Realizando uma breve comparação entre o contato dos europeus com os nativos americanos e a compreensão que os romanos tinham dos povos bárbaros, é possível reavaliar os caminhos que engendram os intercâmbios culturais. Inicialmente, os alunos devem realizar a leitura da descrição que, no século IV, o bispo Amiano Marcelino fez dos povos bárbaros. Segundo o clérigo:

“Todos eles tem membros compactos e firmes, pescoções grossos, e são tão prodigiosamente disformes e feios que poderíamos tomar por animais bípedes ou pelos toros desbastados em figuras que usam nos lados das pontes. [...] Tendo porém o aspecto de homens, embora desagradáveis, são rudes no seu modo de vida.”

Após a consideração deste trecho, peça que os alunos opinem sobre a maneira que o eclesiástico romano enxergava os povos que empreenderam o processo de ocupação do decadente Império Romano. Por meio da depreciação das formas físicas, Amiano procurou justificar os hábitos que considerava “rudes” e “desagradáveis” no modo de vida bárbaro. Dessa forma, reafirmou a condição superior da civilização romana ao animalizar os povos estrangeiros que invadiam seu espaço.

Em contraponto a essa visão depreciativa, podemos contemplar a forma pela qual o navegador italiano Cristóvão Colombo definiu as feições e comportamentos dos povos americanos no momento em que descobriu a América, já nos fins do século XV. Segundo ele contou:

“Tão afáveis, tão pacíficos são eles, que juro a Vossas Majestades que não há no mundo uma nação melhor. Amam a seus próximos como a si mesmos, e sua conversão é sempre suave e gentil, e acompanhada de sorrisos; embora seja verdade que andam nus, suas maneiras são decentes e elogiáveis”

Interessante perceber que Colombo elogia os estrangeiros que conhecia definindo os mesmos como “afáveis”, “pacíficos” e “decentes”. Contudo, estava longe de enxergar os nativos americanos por outros referenciais que não fossem aqueles que ele mesmo trouxe de sua cultura. Entre tantos adjetivos, afirmou, em clara referência aos seus valores cristãos, que os indígenas “Amam a seus próximos como a si mesmos” e seriam facilmente convertidos.

Apesar de ver com bons olhos a população que conhecera a pouco, Cristóvão Colombo desconsiderou algum tipo de ideário religioso próprio a esses povos. Relegou-os à qualidade de verdadeiras “páginas em branco” que poderiam ser “preenchidas” pela cultura européia sem maiores problemas. Nesse aspecto, alguns historiadores chegam a afirmar que a visão de Colombo com relação aos indígenas os colocavam como um item integrado às paisagens e belezas naturais do continente americano.

Por meio dessas duas passagens, é possível mostrar que o contato entre culturas distintas pode, na grande maioria dos casos, salientar as diferenças que se estabelecem entre os povos. Contudo, não podemos simplesmente pensar que o olhar sobre o “Outro” vai sempre estar limitado à formulação de piadas jocosas ou qualquer outro tipo de rebaixamento explícito.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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