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Antibióticos e resistência bacteriana

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Antibiótico: mocinho ou vilão?

A descoberta da penicilina, em 1928, foi um fator decisivo para o desenvolvimento de fármacos com a capacidade de exterminar bactérias. Tal substância é considerada uma das maiores e melhores descobertas da área médica dos últimos cem anos, e foi essencial no tratamento de feridos da 2ª Guerra Mundial, reduzindo um número significativo de mortes. Infelizmente, seu uso descontrolado fez com que, por exemplo, 50% das linhagens da Staphylococcus aureus apresentasse resistência a este fármaco, somente sete anos após a introdução do medicamento no mercado. Outros medicamentos foram adotados para o combate desta espécie e, pelos mesmos motivos, sua eficácia tem diminuído.

A resistência bacteriana a antibióticos ocorre, em muitos casos, porque seu uso, desconsiderando a dose e a frequência ideal, pode provocar a seleção artificial destes organismos, eliminando aqueles mais frágeis e/ou sem resistência natural ao fármaco. Como bactérias se reproduzem com uma rapidez incrível, em pouco tempo podemos ter novas linhagens, mais resistentes, tornando o antibiótico ineficaz e, em alguns casos, até obsoleto. Na verdade, a resistência é um evento que ocorre naturalmente, mas tal fator, assim como a prescrição médica desnecessária (muitas vezes focada na profilaxia), o uso indiscriminado de antibióticos na criação de gados, ou mesmo utilização de sabonetes e produtos de limpeza com agentes bactericidas, podem ser fatores que propiciam o aceleramento deste processo. A verdade é que fazemos parte de uma sociedade consumista e imediatista, e que tende a associar, não raras vezes, a cura à compra e uso de remédios, às vezes feito de forma inadequada.

A França recebeu, em 2002, o título de maior consumidor de antibióticos da Europa. Não satisfeita com isso, investiu em um trabalho que envolvia a comunicação com os médicos, e reeducação da sociedade quanto ao tema, apresentando resultados muito positivos.

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No Brasil, em 2006, foi criada a Rede RM, coordenada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, com o intuito de monitorar organismos causadores de infecções, traçando um perfil de resistência dos mesmos. Em 2010 foi determinado pela Anvisa que, a partir do dia 28 de novembro, antibióticos só podem ser vendidos em farmácias mediante a entrega da receita de controle especial, com validade de dez dias, ficando uma via retida no estabelecimento. Além disso, as empresas receberam o prazo de 180 dias para adicionarem, nas caixas e bulas dos remédios, a frase: “Venda sob prescrição médica - só pode ser vendido com retenção da receita”; e tais receitas deverão ter suas movimentações registradas no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC).

Permitir com que seus alunos conheçam o porquê de se ter cautela com os remédios e o real sentido destas novas exigências é uma boa forma de permitir com que eles assumam uma postura diferente em relação a este fato, podendo também orientar outras pessoas, como amigos e familiares. Este tema pode ser dado em uma aula específica sobre isso e/ou ser trabalhado como um aspecto específico da evolução – a artificial, relacionando com a evolução natural. O importante é que fique claro que o uso de antibióticos (e outros fármacos) pode ser uma “faca de dois gumes”, e que é de nossa responsabilidade o uso racional de tais substâncias.

Por Mariana Araguaia
Graduada em Biologia
Equipe Brasil Escola