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As continuidades da Idade Média

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A literatura pode ser um rico meio de apreciar as influências do mundo medieval.

Quando a Idade Média é colocada em pauta, muitos alunos reclamam que este período nada influenciou os séculos posteriores. Provavelmente, essa perspectiva se assenta na ideia de que, tendo grande presença de valores religiosos, o período medieval ficou marcado como uma “fase de interrupção” do homem nas mais variadas esferas do conhecimento.

Tentando desmistificar essa visão depreciativa, o professor de História pode realizar uma interessante discussão sobre essa noção trabalhando com a literatura brasileira. Nesse caso, recomendamos que o professor retire uma pequena passagem de “Senhora”, do escritor José de Alencar. No primeiro capítulo da obra, destaque esse pequeno trecho, que assim diz:

“Se o sinistro vislumbre se apagasse de súbito, deixando a formosa estátua na penumbra suave da candura e inocência, o anjo casto e puro que havia naquela, como há em todas as moças, talvez passasse despercebido pelo turbilhão. As revoltas mais impetuosas de Aurélia eram justamente contra a riqueza que lhe servia de trono, e sem a qual nunca por certo, apesar de suas prendas, receberia como rainha desdenhosa, a vassalagem que lhe rendiam.”

Nessa pequena passagem, o professor pode requerer que os alunos identifiquem algum termo ou expressão que remeta ao período medieval. Provavelmente, supondo que já tenham estudado a sociedade feudal, algum aluno logo fará referência ao termo “vassalagem”. Contudo, o reconhecimento dessa simples expressão não basta para justificarmos, no caso, a influência do mundo medieval na literatura brasileira do século XIX.

Retomando a significação das relações de susserania e vassalagem, o professor pode destacar que nesse tipo de manifestação social tínhamos a figura de um nobre que jurava total dedicação ao suserano que lhe doara terras. Entretanto, repassado o valor dessa relação para o romance, podemos ver que a jovem Aurélia era uma “rainha desdenhosa” que recebia a “vassalagem” dos vários pretendentes que a desejavam.

Nesse ponto, podemos não só observar o deslocamento da expressão medieval. Com base na situação descrita, pode-se ainda destacar que a obra do escritor brasileiro está visivelmente contaminada pela estética da poesia trovadoresca, que surge na Europa da Baixa Idade Média. Afinal, assim como os trovadores medievais, José de Alencar promove uma clara louvação do homem à figura feminina no romance aqui trabalhado.

Dessa forma, o professor pode demonstrar como a literatura contemporânea ainda se manifesta com seus olhares voltados para a Idade Média. Caso ache interessante, o docente pode finalizar essa atividade pedindo que os alunos procurem canções ou poemas atuais em que a figura da mulher é supervalorizada de forma semelhante à da poesia trovadoresca. Com isso, os próprios alunos identificam outras continuidades medievais a serem exploradas!


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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