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Ao falar sobre as “Grandes Navegações” em sala de aula, percebemos que vários livros e docentes costumam frisar a grandiosidade do evento em questão. Encarar uma nova dimensão do mundo, navegar por águas desconhecidas e entrar em contato com outros povos são alguns dos episódios que assinalam dimensões bastante ricas desse fenômeno. Entretanto, a questão da rivalidade presente entre as nações envolvidas na expansão marítima não costuma ganhar o mesmo relevo.
A descoberta de um novo território ou rota comercial poderia significar a conquista de mais uma lucrativa atividade econômica. A nação que detivesse as melhores tecnologias e informações poderia imprimir o fortalecimento de suas reservas financeiras e a limitação da concorrência comercial oferecida pelas nações vizinhas. Dessa forma, podemos ver que a expansão marítima também se traduziu enquanto palco de conflito entre as potências mercantilistas do Velho Mundo.
Uma das primeiras disputas que aconteceram envolveu Portugal e Espanha, consideradas pioneiras nas buscas por novas rotas marítimas e espaços de ação colonial. A descoberta do continente americano e a colonização do litoral da África colocaram em pauta a definição dos limites territoriais pertencentes a cada um desses Estados Nacionais. Por fim, os tais interesses determinaram a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em junho de 1494.
Para assinalar a relevância desta disputa, sugerimos que o professor trabalhe em sala com a instigante observação feita pelo comerciante Robert Thorne, em carta escrita para Henrique VIII, rei da Inglaterra. Conforme relata o documento lavrado em 1527:
“Os cosmógrafos e navegadores de Portugal e Espanha procuram situar estas costas e ilhas da maneira mais conveniente aos seus propósitos. Os espanhóis situam-nas mais para o Oriente, de forma a parecer que pertencem ao Imperador (Carlos V); os portugueses, por sua vez, situam-nas mais para o Ocidente, pois deste modo entrariam em sua jurisdição.”
Nesse pequeno parágrafo, o docente pode demonstrar como a disputa comercial induzia os especialistas hispânicos e lusitanos a divergirem sobre a localização do espaço colonial destinado a cada um deles. A possibilidade de prosperar economicamente acabava sendo um “critério externo” que provavelmente motivava a discórdia entre os cosmógrafos referidos no documento em questão.
Além da disputa entre os ibéricos, essa mesma fonte documental permite a observância de outra concorrência em formação. Levantando algumas breves informações sobre o governo de Henrique VIII, percebemos que o relato do comerciante inglês é justamente lavrado no momento em que a própria Inglaterra manifestava interesse evidente na conquista de rotas comerciais e zonas de colonização.
Dessa forma, a rivalidade e o acirramento das disputas econômicas internacionais da época ficam evidenciados por esse mesmo documento. Caso ache interessante, o professor pode transformar a leitura dessa mesma citação em um guia para elaboração de uma pequena lista de exercícios que trabalhe o conteúdo das informações desse mesmo documento quinhentista.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola