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Ao tratar da Idade Média, poucos professores exploram a fundo a dinâmica cultural envolvida nesse período histórico. Fazendo breve referência ao diálogo entre as culturas romana e germânica, transformam o mundo medieval em uma situação cristalizada do dia para a noite. Quando muito, destacam as possíveis comparações entre o comitatus germânico e as relações de susserania e vassalagem; ou estabelecem a relação presente entre a formação dos feudos e as villas concebidas durante a Crise do Império Romano.
Entretanto, não descartando a relevância das análises citadas, acreditamos que as negociações que marcam a criação do mundo medieval possam ser aproximadas do cotidiano da turma. Nesse âmbito, o processo histórico que marca a celebração do natal é um excelente tema para se expor as influências que forjam a cultura medieval e que, no caso, ainda se mostram presentes em nosso cotidiano.
Como sugestão, indicamos o trabalho com um texto do editorial do jornal Folha de São Paulo publicado em 25 de dezembro de 1995. Intitulado “É Natal”, o breve artigo faz a seguinte análise da data comemorativa:
“Celebrar o Natal é uma tradição. As chances, contudo, de Jesus de Nazaré ter nascido num dia 25 de dezembro são uma em 365. O registro mais antigo de uma celebração de Natal remonta a 336 d.C.. O 25 de dezembro foi escolhido com base no seguinte raciocínio: o mundo foi criado em um equinócio de primavera (25 de março) [no hemisfério Norte], logo, esta também foi a data da concepção do filho de Deus. Somam-se nove meses, chega-se a 25 de dezembro.
Esse raciocínio não esconde certa esperteza. Uma das mais populares festas romanas, a Saturnália, ocorria entre 17 e 24 de dezembro. Outro festival muito popular, especialmente entre os legionários da Ilíria (Bálcãs), era o culto a Mitra, o deus iraniano [persa] da luz, cujo aniversário era celebrado em 25 de dezembro, o solstício de inverno [no hemisfério Norte].
Ao fazer o Natal coincidir com essas festas tão populares, o cristianismo dava um duro golpe na concorrência e preparava o terreno para tornar-se a principal religião da Europa. O próprio imperador Constantino, antes da sua conversão, era um devoto de Mitra.”
Por meio dessa passagem, o professor pode levantar importantes questionamentos sobre vários campos de conhecimento que não se restringem somente à História. Abrindo diálogo com as Ciências, o professor pode requerer uma breve explicação sobre os fenômenos naturais relacionados ao equinócio e ao solstício. Por meio dessa informação, é possível delimitar os referenciais simbólicos que estão próximos a essas épocas distintas do ano.
Além disso, o professor pode ainda trabalhar sobre a menção que o texto faz ao imperador romano Constantino. Perguntando sobre a importância do imperador para o cristianismo, é possível notar que a religião cristã nasce em meio a uma série de outros valores e costumes que não seriam indiferentes ao desenvolvimento dessa nova crença. Nesse sentido, vale a pena reforçar as datas coincidentes entre o calendário pagão e a fixação do Natal enquanto celebração cristã.
Por meio desta análise, o professor tem condições de realizar uma interessante constatação sobre a religião cristã. Ao contrário do que alguns alunos possam pensar, a doutrina cristã trilhou um longo caminho após Jesus Cristo empreender os ensinamentos que fundamentaram a religião. Mais do que questionar a valor da religião em si, é possível expor que ela também está cercada pelas escolhas do homem e da História.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola