Whatsapp
Novo canal do Brasil Escola no
WhatsApp!
Siga agora!

As perspectivas históricas em sala de aula

Imprimir
Texto:
A+
A-

PUBLICIDADE

Tiradentes: um exemplo na construção de perspectivas históricas distintas.

Uma função muito importante do professor em sala de aula refere-se à como o mesmo deve tratar o livro didático perante os alunos. Da mesma forma que o professor não é um “senhor absoluto” da sua área de conhecimento, o livro didático não pode ser colocado enquanto “fonte inquestionável” desse mesmo conhecimento. Dessa forma, o professor deve incutir em seus alunos que o livro lhe oferece, apenas, uma determinada visão do fato.

Nesse trabalho é de fundamental importância demonstrar ao aluno que o livro não está simplesmente errado. Nesse sentido, é necessário dialogar com a turma de alunos lhes demonstrando que o passado não é uma simples recuperação de uma época vivida. A relação do historiador com esse passado leva em conta o fato que cada sujeito, ao falar do passado, tem como referencial as idéias e valores do tempo em que vive. Portanto, o oficio do historiador possui os seus limites.

Muitas vezes os alunos não conseguem ver essa questão muito bem, pois, desde muito cedo, são orientados a não questionar aquilo que é dito pelo professor e pelos livros. Dessa forma, o educador pode relativizar o conhecimento histórico junto com seus alunos trabalhando não com um, mas com vários livros didáticos. Nesse tipo de trabalho crítico, o aluno pode ver na diferença de opiniões entre duas diferentes fontes de estudo o valor “inexato” da História e das Ciências Humanas.

Como sugestão de tema para esse tipo de trabalho, podemos indicar o estudo da Inconfidência Mineira. Essa revolta, ocorrida durante o século XVIII, demonstrou o anseio das elites econômicas e intelectuais mineiras quanto ao fim do Pacto Colonial. Além de oferecer um rico quadro entre os conflitos entre colônia e metrópole, o episódio da Inconfidência Mineira também conta com um intrigante personagem histórico: o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Trazendo à sala diferentes livros didáticos, divididos entre obras mais antigas e outras recentes, o professor poder realizar com seus alunos um interessante exercício interpretativo. Tomando cuidado para que os alunos não julguem os livros como “certos” e “errados”, a leitura de livros de épocas diferentes deve ser feita com o objetivo de demonstrar aos alunos os caminhos que envolvem o ofício do historiador. Nesse aspecto é importante ressaltar que o intelectual é influenciado pelas idéias de seu tempo.

Além de mostrar as diferentes noções sobre um mesmo assunto histórico. Esse assunto pode mostrar aos alunos de que maneira a figura de Tiradentes foi sendo “heroicizada” ao longo de nossa história. É importante enfatizar o interesse que os militares republicanos tiveram em criar os heróis nacionais que estabelecessem uma noção de vínculo entre os militares, autores da proclamação, e Tiradentes, que também fez carreira militar. Por fim, o “ato heróico” de Tiradentes seria equiparado ao da Proclamação.

Uma última questão que pode ser enfatizada nesse trabalho é a forma pela qual a imagem de Tiradentes foi recriada. Nas pinturas que o mártir aparece, dá-se destaque ao momento do enforcamento ou ao seu corpo esquartejado. Somado ao momento de “sacrifício pela nação”, o rosto de Tiradentes mais parece uma reprodução fiel das imagens comumente associadas a Jesus Cristo. Nesse momento, o pensamento religioso torna-se importante eixo do debate.

Ao finalizar o trabalho, os alunos podem realizar algum tipo de produção escrita onde a imagem de Tiradentes possa ser recriada pelos próprios alunos. Preferindo a produção de charges ou pinturas, os alunos podem ser avaliados através da criação de um “novo” Tiradentes baseado nas idéias discutidas em sala. Por fim, o professor deve incutir em seus alunos a idéia de que a História conta com diferentes perspectivas.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola