O objeto de estudo da Geografia é o Espaço Geográfico e este é produzido a partir do trabalho humano. Esse olhar geográfico permite-nos colocar o trabalho como um fundamental componente da vida em sociedade, tanto no aspecto da produção de bens e serviços quanto da realização pessoal e independência econômica. Entretanto, o mundo do trabalho, sendo um componente da vida social, também produz e reproduz desigualdades representadas na sociedade, como a desigualdade de gênero.
Embora tenhamos presenciado nas últimas décadas do século XX e nos anos iniciais do século XXI a inserção, cada vez mais crescente, da mulher no mercado do trabalho formal e informal no Brasil e no mundo, esse fato pode ser explicado por um conjunto de elementos históricos, econômicos, culturais e sociais.
Os processos de urbanização e industrialização foram responsáveis por uma transformação nas taxas de fecundidade. Essa transformação ocasionou – em um misto de necessidade do mercado e de oportunidade real – a entrada das mulheres no mercado de trabalho. Embora a inclusão da mulher como força de trabalho tenha crescido, tanto em nosso país como em diversas nações do planeta, as desigualdades na remuneração e nos postos de trabalho ainda persistem.
Quando esse tema é abordado em sala de aula, especialmente no Ensino Médio, faz-se necessário considerar diversas fontes de informação e uma abordagem ampla. Não se pode excluir dados estatísticos, como os que demonstram que as mulheres ainda estão em desigualdade em relação aos homens nos tipos de cargos oferecidos, nas remunerações pagas e nas promoções para cargos de chefia.
Um importante documento que pode ajudar a construir o debate em torno do tema é a publicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Nota Técnica Mulheres e trabalho: breve análise do período 2004-2014, estudo que apresenta um panorama de como tem sido a participação das mulheres no mercado de trabalho nos últimos anos, quais os postos ocupam e sua evolução salarial.
Essa fonte permite-nos verificar que:
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As mulheres ainda são a expressiva minoria dos trabalhadores. Homens brancos ou negros representam 80%, e as mulheres dos dois grupos raciais não chegavam a 60% de ocupação em postos de trabalho. Esse fato pode ser explicado por diversas razões, incluindo as responsabilidades domésticas (como criação dos filhos);
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Embora a renda tenha tido expressivamente melhorada no período analisado, não foi suficiente para equiparar os ganhos entre gênero e raça. Os homens permanecem ganhando mais que as mulheres (em média, R$ 1.831 contra R$ 1.288, em 2014), e os homens brancos ganham ainda mais (R$ 2.393, em 2014). As mulheres negras seguem na base, com renda de R$ 946 no mesmo ano;
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O trabalho doméstico continua sendo um dos líderes entre os postos ocupados por mulheres, concentrando 14% da população feminina, ou 5,9 milhões. As mulheres negras são maioria entre as trabalhadoras domésticas: 17,7% contra 10% das brancas.
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Esse documento possui uma série de informações que qualificam o debate em torno da análise social, histórica, populacional e cultural que envolve as questões de gênero e o mercado de trabalho. Outro documento importante que fornece informações sobre o posicionamento da mulher no mercado de trabalho é a publicação do IBGE Mulher no Mercado de Trabalho: Perguntas e Respostas, que apresenta, além de dados, uma análise qualitativa das informações de forma direta e didática.
É preciso considerar cada um dos aspectos e contextualizar as informações para que a temática saia do senso comum e que os alunos possam perceber que a desigualdade ainda existente no mercado de trabalho no que diz respeito à posição da mulher é multifatorial e tem suas raízes na histórica discriminação de gênero.
Os alunos devem notar que as profissões essencialmente femininas não são bem remuneradas e que os cargos de chefia, mesmo em profissões historicamente ocupadas por mulheres, são exercidos, em grande parte, por homens. Além de conhecer os dados, faz-se necessário conhecer as motivações e implicações dessas decisões de exclusão, que os aspectos culturais têm muito mais importância do que aparentemente se apresentam e que o esclarecimento é uma importante ferramenta para a ação no sentido de promover mudanças nesse panorama.
Sugestão de trabalho:
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Inicialmente, questionar os alunos sobre as experiências e concepções que possuem sobre a mulher no mercado de trabalho; quantas mulheres de suas famílias trabalham fora, em que tipo de trabalho e cargos etc. Também é necessário questionar sobre os motivos que fazem com que algumas optem por não trabalhar fora;
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Após esse breve levantamento de dados, é importante escrever no quadro as respostas dadas pelos alunos e selecionar os tipos de trabalho e as motivações para não trabalhar fora. As mulheres das famílias dos alunos que farão parte desse levantamento devem estar em idade laboral (16 a 65 anos);
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A partir da sistematização das informações, pode-se realizar uma aula expositiva dialogada para explicar (conforme orienta o texto acima) os obstáculos que as mulheres ainda enfrentam no mercado de trabalho. É preciso elucidar que a distância entre homens e mulheres no acesso aos cargos de chefia, postos de trabalho com melhor salário e a diferença nas remunerações não são “obra do acaso”, mas, sim, resultado de fenômenos culturais, sociais e do mercado;
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Após a explanação, direcionar o debate e procurar contornar extremismos e manifestações preconceituosas, especialmente no que diz respeito à mulher, afinal, a escola é lugar para desconstruir preconceitos por meio do conhecimento, e não lugar de reforçá-los;
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Para avaliar, uma sugestão pertinente após a discussão é propor uma produção de texto individual. Essa atividade fará com que o aluno pense a respeito do que foi debatido e explicado e precise sistematizar as ideias. O tema da redação pode ser “A mulher no mercado de trabalho.”
Por Amarolina Ribeiro
Graduada em Geografia