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Bandeirantes: desbravadores nada heróicos

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O bandeirante de Benedito Calixto: a construção de uma imagem robusta e heróica.

Hoje em dia, o ritmo do mercado editorial e da pesquisa histórica vem se aproximando de modo a promover uma constante revisão nos livros didáticos oferecidos às escolas. Contudo, algumas obras oferecidas ao professor nem sempre fornecem uma visão atualizada sobre alguns assuntos a serem trabalhados em sala de aula. Ao perceber esse tipo de problema, o professor tem uma grande chance de demonstrar aos alunos como o passado pode ser contado de diferentes formas.

Um dos casos mais corriqueiros que exemplificam esse tipo de situação aparece nos conteúdos de história colonial, especialmente quando os livros tratam da figura do bandeirante. Nesse caso, o bandeirante pode aparecer como um bravo herói nacional responsável por desbravar novos limites do território nacional e descobrir as ricas jazidas de ouro que movimentaram a economia colonial durante os séculos XVII e XVIII.

Com respeito a essa questão, o professor pode demonstrar por meio do quadro “Domingos Jorge Velho e o Loco-tenente Antônio Fernandes Abreu” (1903), onde o pintor Benedito Calixto constrói uma imagem do bandeirante. Utilizando dessa obra, a turma pode realizar uma atividade descrevendo os elementos que compõem essa mesma obra. Sob tal aspecto, é fundamental que o professor elabore questões que explorem detalhadamente a obra.

Entre outras perguntas, sugerimos que o professor indague sobre as roupas, o porte físico, a expressão facial, os utensílios que montam a imagem do bandeirante. Por meio dessa atividade, é possível realizar uma avaliação das análises dos alunos, separando os diferentes tópicos abordados nessa primeira avaliação. Após socializar o conhecimento promovido por aqueles que quiserem comentar a atividade, o professor pode trabalhar com fontes que possam desconstruir o bandeirante de Benedito Calixto.

Depois de destacar algumas dessas análises, é interessante problematizar com os alunos como seria possível acreditar na imagem altiva de homens que passavam dias adentro na mata tendo que superar as dificuldades de viagens feitas a pé e buscando aprisionar populações indígenas que converteriam algum lucro no comércio de escravos. Ao lançar essa questão à turma, o professor pode lançar aos alunos alguns relatos do padre jesuíta Antonio Ruiz de Montoya.

Por meio da fala desse membro da igreja que viveu no mesmo período, o professor pode assinalar um claro distanciamento entre a fala do clérigo colonial e o pintor do início do século XX. Com isso, o professor demonstra à turma como a história está marcada pelos interesses e valores dos homens de sua época, que empreendem compreensões múltiplas sobre um mesmo passado. Dessa forma, a limitação dos recursos didáticos se transforma numa rica reflexão histórica.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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