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Canção de protesto no Brasil

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A repressão do regime militar interferiu no processo criativo de certos compositores brasileiros.

Durante a década de 1960, a discussão sobre as relações entre o Brasil e os Estados ocupou diversos espaços de debate. Neste contexto cultural, alguns estudantes da União Nacional dos Estudantes decidiram estabelecer um projeto onde defenderiam a prática de gêneros musicais considerados populares para alertar a população contra as questões de natureza política. Para tanto, estabeleceram a criação dos Centros Populares de Cultura, também conhecidos como CPC’s.

Utilizando da música como instrumento de engajamento político, os artistas envolvidos com esse projeto tinham a preocupação de denunciar conceitos-problema como autenticidade e alienação cultural. Dessa forma, inseriam conteúdo político de suas canções com o objetivo de promover a comunhão de suas perspectivas políticas. Para tanto, promoviam a gravação de discos ou a organização de shows onde buscavam trazer suas canções ao público.

Para trazer essa questão em sala de aula, aproveitando o processo de instalação de ditadura militar no Brasil, o professor pode demonstrar as transformações dessa arte promovendo uma análise comparativa de canções compostas antes e durante a vigência do regime militar. Nesse sentido, os alunos podem compreender como a carga subjetiva das canções se fortaleceu a partir do momento que os órgãos de censura passaram a controlar as canções que poderiam ser gravadas pelos artistas.

Para demonstrar tal diferenciação, sugerimos ao professor o trabalho com duas canções específicas. A primeira seria "Canção do subdesenvolvido", gravada em 1961 e composta por Carlos Lyra e Chico de Assis, ambos ligados às atividades do CPC da UNE. Nessa canção, as críticas e referências à dependência econômica e cultural do Brasil com relação aos Estados Unidos ganham tons explícitos em vários trechos da canção.

Os autores dessa canção falavam sobre o problema da subserviência da nação em relação aos norte-americanos. Além disso, ampliavam a questão da dominação econômica para o campo cultural ao dizer que assim como eles, os brasileiros consumiam “Rock balada” e “filme de mocinho”. Contudo, criticavam esse sentimento de igualdade ao dizerem que apesar dos brasileiros “dançarem”, “cantarem” como americanos, os brasileiros não comiam como os americanos.

A pretensão de se misturar críticas com denúncias nesse tipo de manifestação artística acabou perdendo força com o fim das liberdades democráticas. A partir de 1964, os militares chegaram ao poder buscando abafar todo tipo de manifestação que pudesse ir contra os seus interesses. Dessa maneira, resolveram instalar órgãos de controle que tinham o poder de vetar as notícias em certo veículo de comunicação ou impedir a gravação de uma determinada música em um disco.

No entanto, muitos artistas preocupados com os rumos tomados pela nação no campo político e social insistiriam em falar sobre as questões nacionais. Para tanto, utilizaram construções poéticas mais rebuscadas que pudesse, em certa medida, preservar o conteúdo político de suas canções e, ao mesmo tempo, passar despercebida pelo crivo dos censores. Para exemplificar essa nova característica, o professor pode trabalhar com a canção “Ponteio”, de Edu Lobo e Capinam.
Nessa segunda canção, explorando o contexto repressor do regime militar, o professor pode indicar como a narrativa dessa canção tem uma construção mais difícil de ser decodificada. A idéia dessa canção gira em torno da vontade de tocar violão em um tempo marcado por um “canto calado, sem ponteio”. Logo em seguida, o autor explicita o desejo de falar sobre determinados assuntos em um “tempo mudado”, em “um novo lugar”.

Em uma contraposição simples, o professor tem condições de demonstrar como a forma de se falar sobre questões políticas sofre mudanças marcantes. Enquanto a primeira critica diretamente o comportamento de nosso quadro político-cultural, a segunda denuncia pela vontade de se tocar um instrumento os limites impostos por aquele novo quadro político. Dessa forma, os alunos podem compreender o alcance das interferências culturais estabelecidas pelo regime militar.

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Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola