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Os Cantos de Trabalho são uma prática antiga e tradicional da história brasileira, principalmente no espaço rural. Oriundos de tradições musicais indígenas mescladas com as influências europeias e africanas, os cantos de trabalho marcavam os ritmos de trabalho, unificando ainda o trabalho coletivo e contribuindo para que se diminuísse a extenuação decorrente das longas jornadas de trabalho.
O trabalho com esse tipo de canto, característico do folclore e da cultura brasileira, é uma interessante atividade para se realizar com os alunos em sala de aula, principalmente por mostrar uma diferença em relação à vida do trabalhador no mundo capitalista atual. Essa diferença configura-se tanto no ambiente rural quanto no ambiente urbano, pois a industrialização dos processos de trabalho vem se intensificando nos dois espaços. A abordagem pode ser realizada de forma multidisciplinar, entre os professores de histórias e os de arte.
Os cantos de trabalho demonstram ainda uma solidariedade existente entre os trabalhadores, principalmente nos trabalhos realizados em regime de mutirão, em que um grupo de trabalhadores unia-se para poder realizar alguma tarefa que fosse muito cansativa e difícil para uma única pessoa. A análise desses cantos permite a visualização das diferenças de linguagem existentes, as práticas culturais de cada grupo de trabalhadores e também as situações cotidianas que eram vivenciadas, como as relações amorosas.
No século XX existiram algumas tentativas de registro dessas manifestações. Um caso célebre foi o de Mário de Andrade, que percorreu diversas regiões do Brasil na década de 1920. Neste texto, serão oferecidos outros exemplos de registro material dos cantos de trabalho.
Em 1955, o cineasta Humberto Mauro filmou o documentário Brasilianas: Cantos de Trabalho, em que foram apresentados alguns desses cantos. Alguns deles mostravam a prática de socar o pilão como um trabalho feito por uma pessoa para alimentar várias outras, bem como, por exemplo, o trabalho de socar a terra para a construção de açudes, em que o ritmo da batida do socador na terra acompanhava a melodia entoada pelos homens.
Outro canto foi o relacionado com o trabalho em pedreiras, em que homens laboravam para quebrar, cortar e carregar grandes rochas. A letra do canto evidenciava um trabalho em conjunto, mostrando uma tentativa de tornar a tarefa menos pesada para os trabalhadores.
A cantora Clementina de Jesus gravou em 1976 a faixa Cinco cantos de Trabalho, em que foram apresentadas músicas criadas por Milton Nascimento, Fernando Brant e Cartola, além de algumas decorrentes de arranjos feitos a partir de músicas do folclore brasileiro.
Outro cineasta que registrou em documentários essa prática de trabalho foi Leon Hirszman. Com Cantos de Trabalho – Cana-de-Açúcar e Cantos de Trabalho – Mutirão, foi possível retratar práticas de trabalho ancestrais realizadas no Brasil, que, com o avanço do sistema capitalista, foram se perdendo.
Mais recentemente a Cia. Cabelo de Maria produziu um álbum denominado Cantos de Trabalho. Após pesquisas realizadas pela musicista Renata Mattar, foram registrados cantos oriundos de diversas partes do Brasil e ligados a algumas atividades, como o trabalho das destaladeiras de fumo de Arapiraca (AL), das descascadeiras de mandioca de Porto Real do Colégio (AL), das plantadeiras de arroz de Propriá (SE) e da farinhada da comunidade de Barrocas (BA). Com esse trabalho, foi possível registrar uma prática cultural que é passada de geração a geração de forma oral.
A avaliação a ser realizada pelos professores pode ser feita pedindo que os alunos apresentem suas impressões e as diferenças que são verificadas ao escutar as músicas e ao assistir aos vídeos, no sentido dos temas que são tratados, dos tipos de trabalho, as diferenças de linguagem, as roupas usadas e os locais em que são ambientados.
Por Tales Pinto
Mestre em História