É de senso comum entre os professores de Geografia a importância da aula de cartografia. Esse tema é primordial para a sequência da disciplina, pois, sem ter ciência da correta leitura dos mapas, os alunos podem encontrar dificuldades em compreender determinados temas.
O problema é que nem sempre os alunos conseguem enxergar essa importância, relegando atenções secundárias a essa matéria, muitas vezes julgada como “chata” ou de difícil compreensão. Por esse motivo, uma estratégia que pode ser utilizada pelo professor para tornar o assunto mais interessante é abordá-lo através de histórias em quadrinhos, dando um conteúdo mais político ao tema.
Uma das personagens mais conhecidas dos quadrinhos (e, sem dúvida, a mais geográfica!) é Mafalda, cujas histórias foram desenvolvidas pelo cartunista argentino Quino, entre os anos de 1954 e 1983, apesar de muitas de suas colocações serem consideradas atuais. Boa parte do conteúdo de suas histórias possuía um cunho político, sendo, portanto, uma forma interessante de difundir conhecimentos sobre os acontecimentos do século XX de forma prática e objetiva.
Algumas de suas tirinhas fazem referência ao estudos dos mapas e representações, o que as transforma em um bom instrumento didático a ser trabalhado para introduzir e dinamizar suas aulas de cartografia. Observe a tirinha abaixo:
A diferença entre a representação e a realidade
Com a expressão “modelo reduzido”, observada na tirinha, o professor terá a oportunidade de apresentar a noção de escala, que existe porque os mapas são expressões esquemáticas do mundo em um tamanho menor, de forma que a relação entre o tamanho original com o tamanho da representação configura a escala. Além disso, fica a crítica sobre como as transformações políticas no mundo capitalista representam o “desastre” mencionado pela personagem (guerras, fome, miséria etc.).
Sobre a noção de norte e sul da Terra, observe:
Uma tirinha explicativa sobre o “em cima” e o “embaixo” da Terra
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Nessa tirinha, o personagem ironiza a disposição da Terra, em que o Norte é colocado “em cima” e o Sul é mantido “embaixo”. É importante ressaltar dois fatores importantes: primeiramente, que em Cartografia não existe algo para cima ou para baixo, apenas para o Norte e para o Sul; em segundo lugar, é importante destacar o caráter ideológico das ciências que construíram a visão de mundo a partir do norte, que hoje abriga a maior parte dos países desenvolvidos.
Sabemos que a Geografia e Cartografia foram concebidas a partir de um modelo europeu de ciência, manifestando, em determinadas ocasiões, algumas concepções eurocêntricas. Basta visualizarmos as principais projeções cartográficas utilizadas, como a de Robinson e a de Mercator, que colocam a Europa no “centro” do mundo.
Seguem abaixo mais algumas publicações de Quino que podem ser utilizadas para evidenciar o caráter ideológico dos mapas.
Mafalda e o mundo virado de cabeça para baixo
Mafalda ironizando o fato de o mundo subdesenvolvido estar “para baixo”
Mafalda “invertendo” a dinâmica mundial
Em virtude de seu elevado senso crítico e da forma irônica com que abordam alguns temas pertinentes à Geografia, as tirinhas de Mafalda podem sempre ser utilizadas em sala de aula, tanto para os temas da Cartografia como para outras questões, como a Geopolítica.
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Créditos das imagens: QUINO, J. L. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia