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No cotidiano da sala de aula, sabemos que muitos alunos acabam criando imagens heroicas de alguns personagens vistos como centrais para a ocorrência de um fato histórico. Na verdade, em algumas situações, vemos que a simplificação acontece pela ação dos próprios livros didáticos que se negam a explorar um contexto histórico em favor da ação de certos indivíduos.
O estudo sobre a descoberta do continente americano é um exemplo de situação onde podemos detectar esse tipo de acontecimento. Muitos alunos tendem a enxergar Cristóvão Colombo como um ambicioso aventureiro interessado na descoberta de novas terras e na obtenção de inúmeras riquezas. A coragem de se aventurar em águas desconhecidas a oeste reforça ainda mais a ideia de que ele tinha um espírito heroico.
Para obter essas informações, sugerimos que o professor peça aos alunos que pesquisem sobre a vida de Colombo, para a organização de um debate inicial sobre a sua figura. Caso prefira, organize os alunos em grupos onde possam colher diferentes informações e realizar uma discussão prévia sobre o significado e o peso das ações históricas atribuídas ao famoso navegador.
Colocada em debate a imagem de Colombo, sugerimos ao professor que ele exponha uma opinião nova sobre o assunto. Para tanto, indicamos um trecho da obra “Viajantes e Indígenas”, de Tzvetan Todorov. Segue o texto a ser trabalhado:
“Os motivos que levaram Colombo a empreender a sua viagem evidenciam a complexidade da personagem. A principal força que o moveu nada tinha de moderna: tratava-se de um projeto religioso, dissimulado pelo tema do ouro. O grande motivo de Colombo era defender a religião cristã em todas as partes do mundo. Graças às suas viagens, ele esperava obter fundos para financiar uma nova cruzada.”
Analisando em grupo essa afirmação, observamos que Todorov constrói uma imagem de Colombo que passa bem longe daquele impetuoso navegador interessado em terras e poder. Mediante suas pesquisas, esse historiador concluiu que Colombo queria aproveitar do conhecimento de navegação da época para estabelecer uma missão de natureza religiosa.
Sob tal aspecto, o professor pode confirmar a lógica da afirmação de Todorov no fato de que os reinos ibéricos estiveram tradicionalmente envolvidos na divulgação do cristianismo e no combate de outras crenças, principalmente o judaísmo e o islamismo. Mostrando tal questão, o professor deve expor à turma que a “nova cruzada” de Colombo procurava realizar a expansão do cristianismo em outros lugares.
Por meio dessa aula, o professor tem a rica oportunidade de desmistificar uma imagem tradicionalmente associada à figura de Cristovão Colombo. Mais do que desconstruí-lo, ele revela aos alunos que o passado não é cercado apenas pela ação dos grandes feitos. Ao mesmo tempo, vemos que as formas de entender o passado mudam na medida em que nos deparamos com diferentes documentos e questões.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola