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Compreendendo a mudança da sociedade feudal

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A crise do mundo feudal não está necessariamente vinculada à desarticulação desse sistema.

Para muitos professores, trabalhar a desarticulação do mundo feudal é um penoso desafio muitas vezes cercado pela carência de textos e informações que facilitam a apreensão dessa informação pelos alunos. Muitas vezes, ao falarmos da “crise” do modelo feudal abrimos espaço para interpretações um tanto quanto diversas dessa simples palavra. Por tanto, para abordar esse tema, aconselhamos o professor a fazer uma primeira discussão sobre o significado da palavra “crise”.

Inicialmente, distribua diferentes exemplares de dicionários entre os alunos. Logo em seguida, pergunte para alguns alunos que não possuem dicionário qual a interpretação que eles fazem da palavra “crise”. Anotando a opinião de cada um dos participantes, ceda algum espaço para que os alunos com dicionário também encontrem e reproduzam a opinião dos exemplares que foram distribuídos.

Por ser corriqueiramente associada a uma ideia de instabilidade ou dificuldade, muitos alunos acabam interpretando que a “crise” do sistema feudal indica um período em que as formas de organização desse sistema começava a não possuir a mesma funcionalidade. Contudo, na qualidade de historiador, o professor bem sabe que esse período histórico não pode ser explicado de forma tão simplista. Afinal, são outros critérios que nos explicam a desarticulação do feudalismo.

Buscando inteirar o aluno de uma compreensão mais profunda, aconselhamos o professor a expor em classe essa interessante citação do historiador Édouard Perroy, que diz:

"De um modo geral, a organização social funda-se numa especialização das atividades de duas elites, uma encarregada das funções espirituais e, a outra, da ação militar, ambas sustentadas pelo trabalho da massa camponesa. O nível de vida dos eclesiásticos e cavaleiros era ainda muito medíocre, [...] mas, se ele se elevar, se a produção agrícola aumentar, os especialistas da prece e do combate disporão de maiores riquezas para o seu lazer, para as despesas do luxo, para as empresas de conquista longínqua, para as pesquisas artísticas e intelectuais."

Nessa passagem, tenha primeiramente o cuidado de indicar quem são os encarregados das “funções espirituais” e das ações militares. Dessa forma, o aluno tem condições de enxergar que a citação fala sobre a sociedade feudal e os papéis ocupados por cada um de seus integrantes. Logo em seguida, discutindo a questão da elevação do “nível de vida”, o professor tem chance de apontar quais as mudanças que poderiam ser alcançadas caso a “produção agrícola” aumentasse.

Feita essa análise, questione aos alunos quais são as transformações indicadas por Perry ao projetar a melhoria das condições de vida da sociedade medieval. Entre as consequências assinaladas, destaque os trechos que abordam as “empresas de conquista longínqua” e as “pesquisas artísticas e intelectuais”. Nesse sentido, destaque o fato dessas pesquisas e conquistas marcarem o desenvolvimento das grandes navegações e o florescimento do movimento renascentista.

Dessa forma, é interessante demonstrar que a explicação dada por Édouard Perroy atribui a desarticulação do mundo feudal às mudanças ligadas ao próprio progresso material desse sistema. Na medida em que a disponibilidade de gêneros agrícolas se desenvolvia, a articulação do comércio e o desenvolvimento das ações artísticas e intelectuais passaram a trilhar uma nova realidade. Com isso, a ideia de crise do mundo feudal passa a ter um significado diferente daquele que foi discutido no início da aula.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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